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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Última parte da resenha

DO REFORMISMO À LUTA ARMADA

Em artigo publicado em Novos Rumos no final de 1962 e intitulado “Golpe, imperialismo e democracia”, Mário Alves dá mais uma mostra da sua extraordinária lucidez analítica. Considera que “a partir da renúncia de Jânio foi rompida a relativa estabilidade política do País, que mergulhou a partir de então num período de sucessivas crises de governo, de agudos choques entre as forças detentoras do poder e de manifestações enérgicas de descontentamento das massas”.

Como solução pregava a unidade e a mobilização mais intensa das forças básicas da revolução brasileira, das grandes massas trabalhadoras e populares para garantir a vitória da luta pela libertação e pelo progresso. Apagava incêndio com querosene, assumindo, então, uma linha cada vez mais à esquerda das posições do secretário-geral do PCB.

E o racha do PCB chegou junto com o Golpe Militar. Ainda em abril de 1964, Mário escreveu “Esquema para discussão”, primeiro documento do PCB sob o novo regime responsabilizando o pacifismo de Prestes pela rendição sem resistência.

A resposta de Prestes veio no mesmo momento da primeira prisão de Mário Alves, coincidentemente após a apreensão de documentos feita na casa do secretário-geral, e que resultou na prisão de inúmeros quadros comunistas.

Durante a “ausência” de Mário, o Comitê Central aprovou documento que o responsabilizava, junto com Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho e Manoel Jover Telles, dentre outras lideranças, pelos “desvios de esquerda”, pela superestimação precipitada das próprias forças, avaliação exagerada das possibilidades objetivas, ações precipitadas, isolamento das massas, sectarismo e por aí vai ladeira abaixo.

Nascia assim o bloco de oposição a Prestes conhecido como Corrente Revolucionária, que mobilizava a maior parte dos núcleos ativos do PCB e que tinha como lideranças, além dos nomes já citados, Marighella e Câmara Ferreira.

Na realidade, sob o pretexto de procurar culpados pelo golpe militar, os comunistas disputavam a direção do PCB, principal organização da fracionada esquerda brasileira.

Foi justamente Marighella quem implodiu a luta interna ao comparecer a uma reunião da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) em Cuba sem autorização do PCB. Na oportunidade, fez ainda um pronunciamento pelo rádio criticando o pacifismo do partido e anunciando sua disposição para iniciar a guerrilha no Brasil.

Em resposta, o Comitê Central emitiu resolução expulsando o dirigente e, no mês de dezembro do mesmo ano, completou a limpeza ideológica expulsando os demais líderes da corrente.

Desmantelado o grupo, abria-se o caminho da resistência armada à ditadura militar. Assim, em 1968, Marighella organiza a Ação Libertadora Nacional (ALN). Mário Alves, Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho e outros companheiros, criam, no mesmo ano, o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Já os comunistas da Dissidência da Guanabara fundam o Movimento Revolucionário 08 de Outubro (MR-8).

O historiador defende que, independente do ponto de vista que se parta, não se pode dissociar os avanços democráticos posteriores das incursões da esquerda pela luta armada, seja para justificar um possível atraso na abertura do regime ou entender o tortuoso processo de revisão política em que todos os setores se viram mergulhados pela imposição dos fatos.

Se a opção da luta armada mostrou-se adiante como um trágico erro tático, por outro, era o caminho mais digno para aqueles que guardavam a chama da revolução socialista acesa na mente e no coração.

Para a repressão, passou a ser uma questão prioritária a eliminação física de lideranças como Mário Alves e Marighella tanto pelo passado de lutas como pela grandeza moral e, sobretudo, pelo exemplo pessoal que representavam para os comunistas. Principalmente Mário Alves, considerado pelo autor o quadro mais consistente, combativo e capaz que a esquerda do PCB conseguiu gerar ao longo de sua história.

Passados 39 anos de sua morte, muitos dos desafios enfrentados pelo PCB – política de alianças com setores da burguesia nacional e internacional, neocaudilhismo, reformas de base, perda do horizonte e da praxis socialistas, etc - continuam postos para a esquerda brasileira. A boa notícia trazida por Gustavo Falcón é que Mário Alves continua vivo.

# José Falcón Lopes é jornalista.

Confira todas as postagens sobre o Livro:

Livro de Gustavo Fálcon mantém viva a luta e a trajetória política de Mário Alves

Leia a "orelha" do livro de Gustavo Falcón

Resenha do livro: Parte 1

Resenha do livro: Parte 2

Resenha do livro Parte 3

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