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sábado, 31 de janeiro de 2009

Leia a "orelha" do livro de Gustavo Falcón

Abaixo reproduzo a "orelha" do livro de Gustavo Falcón, "Do reformismo à luta armada: A trajetória política de Mário Alves (1923-1970)". Após a leitura, dá para perceber que se trata de um livro que vai além da história do militante comunista. É a interpretação dos acontecimentos daquela época, traduzidos na vida de quem viveu para transoformar a sociedade e morreu para eternizar esta luta.

Por Jorge Nóvoa*

"A vida de Mário Alves, esse brasileiro 'igualzinho' a você, atravessou conscientemente mais de 30 anos de história da República brasileira e adquiriu identidade buscando soluções políticas para os graves problemas sociais e gerais da população do Brasil, que ainda hoje persistem. Sua existência se pautou não só pela crítica democrática e socialista aos fundamentos da formação social brasileira, mas também pela natureza capitalista das determinações internacionais deste País.

A ameaça nazista (das décadas de 1930 e 1940) mobilizou suas energias afetivas e intelectuais, do mesmo modo que a muitos da sua geração, como foi o caso de Milton Santos, a quem Mário substituiu na presidência da ABES (Associação Baiana de Estudantes Secundaristas). Assim como alguns de seus companheiros que também se tornariam jornalistas, Mário dirigiu em Salvador o jornal O Momento, do Partido Comunista Brasileiro, de cujo Comitê Central foi membro.

Na década de 1950, sofreu profundamente a crise do movimento comunista internacional com as denúncias contra Stálin e o estalinismo que apareceram no célebre Relatório Krouchev. O suicídio de Vargas, '50 anos em 5' de Juscelino, as Ligas Camponesas e, sobretudo, as vitórias dos revolucionários em Cuba em 1959, tudo isso arrebatou suas reflexões políticas. Uma tremenda confluência de fatores e o Golpe Militar no Brasil, denominado de Revolução de 1964, produziram em Mário Alves uma mudança tática em relação ao período precedente: ele passou a considerar a luta armada contra a ditadura militar.

Todas as organizações de esquerda que romperam com a via pacífica propugnada pelo PCB sucumbiram a essa ilusão. Hoje, o passado parece totalmente superado. Não existe mais a URSS, nem os países do Socialismo Real. A própria China, que ainda é considerada socialista por alguns, reconheceu na prática a vitória 'internacionalista' do mercado e do capital.

Nesse tempo do neoliberalismo e de oportunismo de toda ordem, em que fazer política significa a arte de manipular o povo, falar de figuras como Mário Alves pode parecer um desatino pueril de saudosistas.

Portanto, Gustavo Falcón (que começou a pensar em um projeto socialista para o Brasil em meados de 1960, criticando a organização de esquerda dominante na época, o PCB) teve muita coragem ao decidir escrever sobre Mário Alves, esse brasileiro excepcional, que incomodou - e continua incomodando - as instituições brasileiras, até com sua morte trágica, sob tortura.

Aparentemente, ninguém sabe, ninguém viu. Todavia, este é o silêncio que brada! Mário preferiu pagar o preço da não delação com sua própria vida. Para ele e para alguns poucos, não vergar sob a tortura significou também contestar até à morte seus inimigos e as formas de dominação que o capital havia estabelecido então.

Quantos seriam capazes de tal façanha? Carlos Marighella o foi também, mas poucos tiveram a força de suportar barbaridades para não 'trair'! Quantos não se suicidaram depois, como Frei Tito, e quantos não sobreviveram como fantasmas de si mesmos depois de terem sofrido tantas atrocidades? As que Mário sofreu não se explicam até hoje, nem mesmo do ponto de vista e da lógica de seus inimigos, que por motivos evidentes desapareceram com seu cadáver.

Anos difíceis aqueles aos quais as novas gerações têm olhado com, no máximo, curiosidade, como se eles não lhes dissessem respeito!"

*Texto de Jorge Nóvoa, doutor em sociologia pela Universidade de Paris VII, autor e organizador de Carlos Marighella: o homem por trás do mito. São Paulo, Edunesp, 1999.

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