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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Crise para quem precisa

Constantemente presenciamos situações em que as pessoas são taxadas de "despreparadas" ou "incapazes", frente a demanda do mercado de trabalho. As demissões em massa atingem não só os grandes centros de produção do capital, mas, também, agridem a já devastada e empobrecida América Latina.

Quando se produz é importante questionar: - se produz o quê? Para quem? Quando se consome é um pouco mais complexo: - se consome o quê? Com que necessidade? E, principalmente: - por quê?

Não somos instruídos a refletir sobre situações vivenciadas em nosso cotidiano. Isso acaba fazendo com que nos alienemos dos processos pelos quais iremos sofrer as conseqüências logo ali adiante. É aquela velha história, após ser explorada pelos colonizadores europeus, a "massa humana" da latino América, tornou-se descartável. Como descartável foram, e são, todos aqueles que deram a vida nas minas de ouro e de prata para enriquecer as nações do velho continente.

O tempo passou e o solo reclamou as consequências. Como, por exemplo, o nordeste, que, chorando, mostrou-se ao mundo como "a região das savanas". Quem diria que lá era o local mais abençoado pelas chuvas no Brasil? Mas os colonizadores conseguiram esterelizar estas terras com as plantações de açúcar.

A importância de libertar a consciência

Julgar e atribuir opinião a determinadas situações exige conhecê-las. Infelizmente nem todos pensam assim. Como desconsiderar nossas origens e as características que formam a nossa maneira de pensar e de agir perante as adversidades?

Em suma, o processo de libertação dos oprimidos, tão distante dos cliques das máquinas, do foco das câmeras e dos olhos da nação - quando o assunto não diz respeito à violência ou tragédia - passa, necessariamente, por uma mudança na forma como cada um se enxerga no mundo e potencializa a sua existência. Não adianta fechar os olhos. A disputa entre a opulência e a miséria está escancarada há séculos. Agora só está, também, batendo às nossas portas. Em breve ela vai sentar-se à sala. Será difícil rejeitá-la.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O Blog do Arte Daqui está no ar

Está no ar e, em constante atualização, o blog do projeto Arte Daqui III. Este é mais um espaço para que se conheça a cena musical da cidade de Pelotas. A diversidade cultural, presente na princesa do sul, está a flor da pele, e, agora, conta com a possibilidade de ser divulgada, via internet, para todo o mundo.

Acessando: www.artedaqui.blogspot.com, é possível ter contato com a arte e a história dos músicos que compõem a terceira edição do projeto desenvolvido pela RádioCom. Ainda em fase de conclusão, o blog já conta com a divulgação do trabalho daqueles músicos que enviaram seus dados para serem atualizados na rede mundial de computadores.

Além de ser uma forma de conhecer melhor cada um dos 19 participantes do projeto, o blog é um espaço para aquelas pessoas que procuram discutir a arte local e tem sede de beber dessa cultura.

Programa Arte Daqui

Desde o dia 23 de janeiro de 2009, é possível acompanhar ao vivo na RádioCom 104.5 fm, inclusive via internet, ( BASTA CLICAR AQUI ), o programa Arte Daqui. Ele vai ao ar todas as sextas, das 21h às 21h30 e conta com a produção e apresentação de Valder Valeirão e Sulimar Rass.

Saiba mais:

Entre no blog do projeto Arte Daqui III

Acesse o site da RádioCom

Confira o post no Exílio Midiático falando sobre o ARTE DAQUI III - Pelotas-RS


Músicos que fazem parte do Arte Daqui, volume III

JULINHO PINHEIRO - MAIAWI
VIRGINIA MACHADO - CANTAR
GILBERTO ISQUIERDO - VIDA
GILBERTO OLIVEIRA - NAVIO NEGREIRO
REGGAE DA LUTA - PAZ AMOR E JUSTIÇA
GIAMARE - UM CANTO PA OCE
MARCELINHO RAPPER - CONVERSA COM GUEVARA
PIMENTA BUENA - CANEAVALE
SOVACO DE COBRA - BREJEIRO
FREDERICO VIANA - QUANDO O VERSO NÃO VEM
RO BJERCK - TEMPO DE ESPERA
SUPREMA ORDEM - FORÇAS E FORMAS
ALOISIO ROCHAMBACK - LUGAR INCOMUM
O ZE E TATU - IASSAIR
JOAO MANTOVANI - OLHO DO DRAGAO
UNIVERSO PARALELO - FORTALEZA
VAN ZULLAT - SAMBA JACARE
AGUA DE MELISSA - SOL DE NASCER
PRETA G - NEGRA GUERREIRA

Resenha do livro: Parte 3

*Esta é a penúltima parte da resenha que destaca o livro:"Do reformismo à luta armada: A trajetória política de Mário Alves (1923-1970)" . O livro é de autoria de Gustavo Fálcon, já a resenha, que está sendo apresentada no blog ,dividida em quatro partes, foi escrita pelo jornalista José Falcón Lopes.

EMBATES INTERNOS

Em 1956, durante o XX Congresso do PCUS, o camarada Kruchev escancarou para todo o mundo os crimes cometidos por Stálin e o PCB se viu obrigado a abandonar o isolamento. Mesmo ilegais, suas atividades contavam com as vistas grossas do presidente Juscelino Kubitschek.

Para o autor, apesar da debandada de inteligências brilhantes da geração de Mário Alves – entre os quais João Batista de Lima e Silva, Osvaldo Peralva e Antonio Paim – e da expulsão de quadros históricos como Agildo Barata, a desestalinização abriu campo não só para uma nova geração de dirigentes, mas para uma ruptura com as interpretações mecanicistas da realidade brasileira.

A nova linha seguida pela Comissão Executiva, exposta na “Declaração sobre a política do PCB”, publicada em março de 1958, teve Mário Alves como principal redator. O documento, aprovado pelo V Congresso do PCB (1960), entendia que as conquistas essenciais do proletariado russo precisavam ser preservadas e a luta de classes, no plano internacional, exigia a defesa da URSS e da revolução bolchevique.

No plano nacional, em lugar do enfrentamento com o regime, o documento defendia a acumulação de forças para a luta democrática. Os comunistas passam a reconhecer o papel democrático de alguns setores das elites e de segmentos sociais e defendem a aliança com alguns partidos e forças progressistas. Em síntese, chegavam à década de 1960 pleiteando legalidade constitucional para atuar legítima e autonomamente nos embates eleitorais e no seio do movimento operário.

Nos embates internos, quadros experientes e históricos como João Amazonas, Maurício Grabois, Diógenes Arruda e Sérgio Holmos foram destituídos da comissão executiva e do secretariado do Comitê Central. Dessa dissidência é que surgirá, em 1962, o PCdoB.

Nesse período, com pouco mais de 30 anos, Mário Alves atingiu o auge de sua condição de militante comunista e o coração político do partido. Tornou-se membro do Comitê Central (30 dirigentes) e da Comissão Executiva (nove dirigentes), além de diretor do principal jornal do PCB, o semanário comunista Novos Rumos.

Mário integrava ainda a Secretaria Nacional de Educação Política, o Conselho da Editorial Vitória e representava oficialmente o PCB em solenidades nacionais e internacionais, passando a ser o terceiro homem na hierarquia do partido, atrás apenas de Giocondo Dias e Luís Carlos Prestes.

Porta-voz da nova orientação do partido, seus textos - que ainda merecem tratamento e organização adequados -, faziam sucesso dentro e fora da militância tanto pela consistência dos argumentos, como pelo estilo sarcástico, demolidor, impiedoso com o adversário ou personagem eleito para o comentário.

POPULISMOS E DITADURA

Além da desestalinização dos PCs por todo o mundo, o final dos anos 1950 trouxe como novidade no cenário internacional o sucesso da Revolução Cubana. Internamente, era o governo desenvolvimentista de JK que fazia o milagre dos “50 anos em cinco”.

Nas eleições presidenciais de 1960, os comunistas apóiam o general Lott, candidato de JK, derrotado pelo populista Jânio Quadros. Conforme permitia a legislação eleitoral da época, o populista de esquerda João Goulart (Jango), parceiro de chapa de Lott, foi reeleito vice-presidente (já o havia sido no Governo JK).

Meses depois, o povo brasileiro assistia embasbacado à renúncia de Jânio Quadros e ao conflito institucional provocado pela posse de Jango que, na opinião do autor, oscilou pendularmente entre seus aliados até que se viu refém dos golpistas. Fez um atribulado percurso até realizar o que Jânio não conseguiu.

Gustavo ancora sua interpretação do Golpe Militar em Severo Salles, para quem o populismo havia chegado a uma disjuntiva extrema: ou substituíam por outro regime, provavelmente autoritário e situado na via de modernização conservadora, ou rompiam as modalidades de conciliação e de representação inorgânica que praticava, buscando alterar aspectos importantes da estrutura da sociedade brasileira, estendendo a democracia a limites mais amplos, inclusive a suas projeções econômicas e sociais.

*Mais informações sobre o livro:

Livro de Gustavo Fálcon mantém viva a luta e a trajetória política de Mário Alves

Leia a "orelha" do livro de Gustavo Falcón

Resenha do livro: Parte 1

Resenha do livro: Parte 2

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Resenha do livro: Parte 2

*Segue abaixo a continuação da Resenha do livro: "Do reformismo à luta armada: A trajetória política de Mário Alves (1923-1970)" escrita pelo jornalista José Falcón Lopes:

COMUNISMO

Na Salvador dos anos 1930-1940, dá-se o encontro do jovem Mário com o comunismo. Em 1939, aos 16 anos, ele entra para o PCB e logo se destaca como liderança estudantil na luta anti-fascista. Chega, inclusive, a ser presidente da Associação Brasileira de Estudantes Secundaristas (ABES), tendo com vice o jovem Milton Santos. Logo viriam também os reconhecimentos pela capacidade de formulação política, sagacidade intelectual e atividade jornalística em O Momento, órgão da imprensa popular do PCB na Bahia.

INTELECTUAIS ORGÂNICOS

Mário Alves, Antonio Paim, Moisés Vinhas, Almir Matos, Aydano do Couto Ferraz, Ariston Andrade, Rui Facó, Oswaldo Peralva, Jacob Gorender e João Batista Lima e Silva, dentre outros nomes, formaram uma importante geração de comunistas baianos dedicados ao jornalismo partidário.

Utilizando uma expressão cara ao comunista italiano Antonio Gramsci, uma geração de “intelectuais orgânicos” comprometidos com a emergência de uma classe social capaz de construir uma nova ordem econômica, política e social, a classe operária.

Nessa linha, o autor cita o importante levantamento feito por Sônia Serra para sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais - “O Momento: história de um jornal militante”, UFBA, 1987 -, segundo o qual, durante o lampejo de vida institucional que viveu de 1945 a 1947, o PCB organizou o jornal A Classe Operária (órgão central do partido), uma dezena de revistas teóricas, oito jornais diários, dezenas de editoras, tipografias e livrarias. Um aparato de comunicação de fazer inveja aos partidos políticos da esquerda brasileira contemporânea.

Mais do que isso. O PCB contava com quadros experimentados nas lutas sociais e embates políticos. Gozava de credibilidade junto aos movimentos de trabalhadores e grupos de intelectuais. Transformava-se assim num verdadeiro partido de massas e, com mais de 200 mil militantes, o maior de todos os PCs da América Latina.

FAMÍLIA E CLANDESTINIDADE

Em 1946, então com 23 anos, Mário Alves casou-se com Dilma Teixeira Borges, militante comunista do Rio de Janeiro que conheceu durante um curso de formação promovido pelo partido.

Um ano depois, acabava a ilusão democrática: o PCB era novamente posto na ilegalidade acusado de atuar como seção do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

Perseguido pelo aparelho repressivo do Estado, o PCB assumiu uma postura esquerdista, conspiratória e sectária sintetizada no Manifesto de Agosto de 1950, assinado por seu secretário-geral, Luís Carlos Prestes.

Militante profissional, Mário foi transferido pelo partido para São Paulo e passou a secretariar um alto dirigente. Durante a clandestinidade, nasceu a única filha do casal, Lúcia Borges Vieira que, em depoimento ao autor, disse recordar de ter morado em mais de 40 casas diferentes nesse período.

A segurança de seus líderes e a formação de “escolas” em sistemas de internato passou a consumir grande parte da energia do PCB, que ainda organizava embaixadas especiais à URSS, enviando seus mais destacados militantes para se aperfeiçoarem na doutrina marxista-leninista.

Em 1953, numa dessas viagens à União Soviética, embarcou Mário Alves, que só retornou ao Brasil em 1955. Durante sua ausência, as dificuldades em garantir segurança à vida de Lúcia fizeram com que Dilma a enviasse para a casa dos avós paternos na Bahia.

José Falcón Lopes

*continua...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Resenha do livro: Parte 1

Destaco neste post, conforme havia prometido, a resenha da interessante obra literária de Gustavo Fálcon. A resenha será dividida em quatro partes para facilitar a leitura

Abaixo a primeira parte, escrita pelo jornalista José Falcón Lopes:

*A vez e a voz de Mário Alves

Comunista baiano, líder da Corrente Revolucionária do PCB e fundador do PCBR, recebe biografia 39 anos depois de sua morte nos porões do regime militar.

Por José Falcón Lopes

Mário Alves de Souza Vieira. Comunista baiano assassinado pela Ditadura Militar entre os dias 16 e 17 de janeiro de 1970 nas dependências do I Batalhão da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro. Morreu sob tortura e não entregou aos seus assassinos o motivo pelo qual foi condenado: suas convicções.

Vitimado pelo sistema que combateu, manteve-se coerente aos ideais em que acreditava. Por isso, 39 anos depois de sua morte e do desaparecimento de grande parte dos regimes comunistas, Mário Alves continua existindo.

Relatos de companheiros e parentes, entrevistas, citações em livros, artigos de jornais, fotografias e documentos, enfim, peças do enorme quebra-cabeça que ajudam a contar sua história foram reunidas no livro “Do reformismo à luta armada: a trajetória política de Mário Alves (1923-1970)”, do jornalista e sociólogo Gustavo Falcón.

A obra é resultado da tese de Gustavo para o doutorado em História na UFBA e, antes mesmo de virar livro, mereceu um artigo do eminente jornalista Emiliano José – autor, dentre outros títulos, de “Lamarca: o capitão da guerrilha”, “Marighella: o inimigo número um da ditadura” e “Victor Meyer, um revolucionário” - publicado na revista Carta Capital de 26 de março do ano passado.

No texto intitulado “A dor de Dilma”, Emiliano, que integrou a banca examinadora da tese, relata o sofrimento vivido pela esposa de Mário Alves, que lutou para que a União reconhecesse o assassinato de seu marido e entregasse seu corpo à família. Dilma Borges Vieira morreu em 1985. O reconhecimento do Estado brasileiro pela morte de Mário Alves só veio em 1º de dezembro de 1987. Seu corpo até hoje não foi encontrado.

CONTEXTOS

Dividido em seis capítulos, o livro começa pelo que o senso comum entenderia como o fim: a onda de prisões e eliminações de militantes do PCBR entre 1969 e 1970. No entanto, o historiador faz desse o mote para a reconstrução dos contextos históricos, políticos e sociais que passam a dividir com Mário Alves o papel de estrela do livro. Afinal, os 47 incompletos e intensos anos vividos pelo comunista são fortemente marcados e influenciados por acontecimentos que valeram ao século passado a alcunha de “era dos extremos”, conferida pelo historiador marxista Eric Hobsbawn.

O autor levanta as origens sertanejas do comunista e descobre não só uma linhagem política poderosa, mas traços marcantes de sua personalidade em comum com um tio considerado herói da Marinha brasileira de quem, coincidentemente, herdou o nome.

*continua...

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