
O cara comprova que o raio, não só, cai mais de umas mil vezes no mesmo lugar, como machuca, e muito. E se dói, imagina como vai ser um dia após o outro...
O camarada só se quebra. Parece que está eternamente preso a uma pegadinha do destino e tem alguém, ou, “alguéns” dando risada da sua cara. Pois bem, nada se compara a triste sina de um grande amigo meu, o langoroso Zé do Né.
Nunca tinha visto tanto infortúnio reunido em uma só pessoa. O pior de tudo é que o rapaz sempre foi exemplo de aplicação e responsabilidade. Quando questionado sobre diversão, dizia:
- Acho importante a gente se distrair, aproveitar a vida, mas antes...
A partir daí vinha uma série de explicações para mostrar que, em primeiro lugar, estavam sempre os afazeres profissionais, acadêmicos ou domésticos.
Aos poucos Zé do Né foi percebendo que não teria muito futuro assim. Tudo em sua volta era um fardo. A cada dia sentia sua cabeça pesando mais de uma tonelada. O resultado disso tudo é que, na maioria das vezes, ou melhor, sempre, Zé do Né se dava mal.
Não podia ser diferente. Zé queria tudo tão perfeito, tão pontual e tão correto. Não tinha como atender nem as suas próprias expectativas, o que dirá as dos outros. O mais engraçado é que as pessoas que o cercavam nem se preocupavam tanto assim com ele. Aliás, o Zé se preocupava com os outros, pelos outros e para os outros. Estranho “né”? Vou tentar explicar...
Zé do Né tinha emprego, era casado e estudava. Todo dia ele ficava inquieto, na ânsia de corresponder às mais diversas expectativas. Mal sabia que a principal expectativa a ser atendida era a cobrança excessiva sobre si mesmo. Ele sempre ouvia:
-Zé, já está tudo certo para fecharmos aquele negócio no prazo estabelecido?
-Zezinho, meu bem, desce o lixo, paga as contas... não esquece, viu? Te amo.
-Devia ter estudado mais rapaz. Sua nota deixou a desejar.
Eram tantas cobranças. Zé do Né ficava atordoado na hora de responder aos questionamentos. Logo demonstrava claramente a sua insegurança. Não conseguia dizer nada sem questionar o interlocutor com um duvidoso “né”, ao final de cada afirmação.
-Sim chefe, está tudo organizado e estamos dentro do prazo. "Né”?,
-Tá certo. Sou eu que faço tudo nessa casa mesmo. "Né”?
-Pois é, “né”? O senhor tem razão professor. Não estudei tanto quanto poderia ter estudado. Posso render muito mais, “né”?
Pobre Zé do Né, mal sabia ele que a vida, ah... a vida..., não está nem aí se o Zé fechou aquele negócio no trabalho, se desceu o lixo, lavou a louça ou se estudou para prova.
O que ela quer mesmo é fazer o Zé perceber que não importa o quanto se preocupe, ou tente fazer as coisas o mais perfeito possível, nunca estará um passo a frente. Nem poderá prevê-la.
É nessas horas que Zé do Né costuma se dar por vencido. Ele não consegue perceber que o melhor da vida é justamente não ter certeza de nada e ser pego de surpresa a cada novo instante. É viver cada dia ao seu dia.
Enquanto isso, segue a expectativa de que, o Zé, aprenda a conviver com a dúvida. Esta sim, componente essencial para ser feliz. Né?
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