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domingo, 20 de setembro de 2009

Um réquiem ao tradicionalismo neste 20 de setembro

Quando, em 1835, estancieiros e charqueadores gaúchos se colocaram contra o Império, não estavam tomados por sentimentos de resistência, afirmação ou patriotismo. O que estava em jogo eram, exclusivamente, os interesses políticos e econômicos.

Sendo assim, não foi a totalidade da população do Rio Grande do Sul que se levantou contra o Império. Na verdade, a maior parte dos gaúchos o apoiava. Com isso, os representantes da oligarquia riograndense, se viram obrigados a construir um movimento contra a taxação da terra e do charque; estavam imbuídos de interesses pessoais e preocupados com a sua própria condição financeira.

Esta data, comemorada pela população, ano após ano, com bastante entusiasmo, não passa de uma reverência ao que foi escrito pelos assessores dos Chefes Militares. Baseados no legado deixado pela Revolução Francesa, os escribas da época, pintaram um quadro de revolução patriótica, no entanto, a história revela que foi apenas um levante patrocinado, em sua maioria, pelos proprietários de terra. Um movimento que nada tinha a ver com ideais revolucionários quando saía do papel e chocava-se com o contexto histórico.

Aliado a isso, preocupa, ainda hoje, os incentivos dados pelo governo para promover desfiles, festas e rodeios. Isso mostra que não existe o mesmo interesse em investir na educação, por exemplo. Priorizar o aprendizado, é dar conhecimento ao sujeito sobre a sua história e deixar que ele julgue os fatos por si mesmo. A população fica refém de um tradicionalismo maniqueísta, que busca na distorção histórica dos fatos, a afirmação de seu movimento.

Revolução de quem?

Esse tradicionalismo, travestido de civismo, é um produto da sociedade em que vivemos. A espetacularização dos fatos, a construção dos mitos e os próprios esteriótipos e preconceitos impregnados na sociedade contempôranea, têm suas raízes fincadas nesse modo de enxergar o que é "ser" gaúcho.

Mais uma vez foram os negros que sangraram. Para se ter uma ideia, os farrapos, não só mantiveram a escravidão, como também entregaram para o Império os negros que haviam sobrevivido a chacina de Porongos.

Ao fechar o acordo final e aceitar a anistia oferecida pelo Barão de Caxias, os negros, que ainda restavam no exército farroupilha, foram levados para trabalhar nas galés do Rio de Janeiro como escravos.

Com a palavra o Historiador

Segundo o historiador da Universidade de Passo Fundo, Tau Golin, "a formação da memória é altamente manipulada". Ele conta que essa exaltação toda, alimenta um sentimento de arrogância e antibrasileiro, ou seja, não contribui, em nada, na compreensão da grandeza histórica do Rio Grande do Sul. É uma percepção que transforma o estado num mito de uma república de estancieiros e senhores de escravos.

Para Golin,"o que vemos hoje é um estado mobilizado pelas forças da Indústria Cultural e pelos aparelhos ideológicos do governo, com o intuito de cultuar na avenida e, por toda a mídia, senhores de escravos e caudilhos, como heróis".

O historiador coloca a situação da seguinte forma: "o modelo está pronto, basta querer parecer do sul e vestir a fantasia. Como isso não tem materialidade, nem ambiência social, envereda-se, para a teatralidade". A verdadeira identidade regional está alicerçada na diversidade cultural presente em todas as regiões, não só, no Rio Grande do Sul, mas também, Brasil afora.

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