O Exílio Midiático está licenciado pelo Creative Commons

Todos os posts disponíveis neste espaço podem ser reproduzidos em outros blogs e sites, sendo necessário citar apenas o autor dos textos (Eduardo Silveira de Menezes) e a fonte (Exílio Midiático). Por outro lado, não é permitido o uso comercial das obras aqui expostas. Mais detalhes ao final da página, clicando no link disponível.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Para pensar...

Abaixo um poema de Jorge de Lima, poeta brasileiro falecido em 15 de novembro de 1953

O mundo do menino impossível

Por Jorge de Lima


Fim da tarde, boquinha da noite
com as primeiras estrelas
e os derradeiros sinos.

Entre as estrelas e lá detrás da igreja
surge a lua cheia
para chorar com os poetas.

E vão dormir as duas coisas novas desse mundo:
o sol e os meninos.

Mas ainda vela
o menino impossível
aí do lado
enquanto todas as crianças mansas
dormem
acalentadas
por Mãe-negra Noite.
O menino impossível
que destruiu
os brinquedos perfeitos
que os vovós lhe deram:
o urso de Nürnberg,
o velho barbado jagoeslavo,
as poupées de Paris aux
cheveux crêpes,
o carrinho português
feito de folha-de-flandres,
a caixa de música checoeslovaca,
o polichinelo italiano
made in England,
o trem de ferro de U. S. A.
e o macaco brasileiro
de Buenos Aires
moviendo da cola y la cabeza.

O menino impossível
que destruiu até
os soldados de chumbo de Moscou
e furou os olhos de um Papai Noel,
brinca com sabugos de milho,
caixas vazias,
tacos de pau,
pedrinhas brancas do rio...

“Faz de conta que os sabugos
são bois...”
“Faz de conta...”
“Faz de conta...”
E os sabugos de milho
mugem como bois de verdade...

e os tacos que deveriam ser
soldadinhos de chumbo são
cangaceiros de chapéus de couro...

E as pedrinhas balem!
Coitadinhas das ovelhas mansas
longe das mães
presas nos currais de papelão!

É boquinha da noite
no mundo que o menino impossível
povoou sozinho!

A mamãe cochila.
O papai cabeceia.
O relógio badala.

E vem descendo
uma noite encantada
da lâmpada que expira
lentamente
na parede da sala...

O menino pousa a testa
e sonha dentro da noite quieta
da lâmpada apagada
com o mundo maravilhoso
que ele tirou do nada...

Chô! Chô! Pavão!
Sai de cima do telhado
Deixa o menino dormir
Seu soninho sossegado!

Nenhum comentário:

As mais lidas durante a passagem pelo Exílio

Faça sua pesquisa no blog

Licença Creative Commons
A obra Exílio Midiático de Eduardo Silveira de Menezes foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada. Com base na obra disponível em exiliomidiatico.blogspot.com.. Podem estar disponíveis permissões adicionais ao âmbito desta licença em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br/.