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terça-feira, 19 de agosto de 2008

Eufemizando o créu na campanha eleitoral

Talvez ele soubesse o que significa eufemismo, mas, de certa forma, não estava entendendo bulhufas do que diziam os governantes. Era época de campanha eleitoral, nestes dias em que a TV, o jornal e o rádio parecem não enxergar mais nada além da discussão partidária. Como bons seletores de informação as empresas da mídia corporativa decidem o que devem, ou não, passar à sociedade. Nada é mais importante do que as últimas noticias sobre a agenda dos candidatos. Suas falas, provocações, carreatas e tudo mais. A eleição é o evento de maior significado para o Estado Democrático de Direito e sua mídia sensacionalista.

Cada cidadão, assim como eu e você, acorda todo dia bem cedo e ruma para o trabalho. No café da manhã saboreia demagogias, já, ao meio-dia, sua sobremesa é um bolo denso e carregado de palavreados e reflexões "eloqüentes". Mas tem um momento, em especial, que o camarada quase perde a cabeça: na hora em que chega em casa. Depois de uma jornada de trabalho duríssima ele ainda é obrigado a jantar com os próceres da democracia representativa.

É de dar pesadelo. Quando está tentando pegar no sono começa a pensar nos momentos vividos durante o dia. É impossível não recordar de alguma demagogia midiatizada. O eleitor em questão já tem certa capacidade de julgar a sociedade de forma crítica. Não é daqueles que acha que tanto faz quem sairá vitorioso do pleito. Aliás, ele “quase” se filiou a um partido político, o qual julgava ter mais "afinidade". Eu digo “quase”, porque o coitado levou um baita susto quando soube das alianças que o partido estava fazendo para chegar ao poder.

Na verdade, a essas alturas, ele já pegou no sono. Não será uma noite tranqüila. Amanhã se repetirá toda a rotina da semana. Domingo é o grande dia e ele já está cansado da falação do horário eleitoral. Sabe que o político mais astuto, com mais coligações partidárias, representante das principais siglas do poder político nacional, tem mais tempo para expor as suas idéias e, apesar de ser o que mais se afunda em prolixidade, é, também, o que mais possui recursos para exercer influência sobre o eleitorado.

O cara está de saco cheio de políticos que “falam de mais por não ter nada a dizer”, como cantarolava o grande poeta Renato Russo. Mas, tudo bem. Ele já está decidido em quem vai votar mesmo. Além do poder executivo, cabe ao sabido eleitor selecionar aqueles que irão compor o poder legislativo. Quanta responsabilidade. Ele começa a ficar nervoso. Todo dia houve o noticiário falar mal de políticos de outros países da América Latina. Deve ser por que é subdesenvolvida - conclui o pobre cidadão. É o tal do Hugo Chávez e sua turma de latino-americanos convictos. O cara não sabe nem bem o porquê, mas não concorda com tudo aquilo que se fala sobre eles nos jornais do maior partido do Brasil, a Rede Globo.

Certo dia ele ouviu alguém dizer que a TV é o meio de comunicação mais assistido no país e a Rede Globo é a campeã de audiência. Falaram que a Venezuela e a Bolívia são maus exemplos para os "americanos do sul” e que os EUA estão "libertando o Iraque", já com planos de libertar também os latinos. Mas libertar de quê mesmo? Ah! Isso ele não sabe...

Ouviu dizer que as principais cidades brasileiras estavam "re-urbanizando" os centros e o MST era um grupo "terrorista" e "perigoso". Quanta sacanagem estão tentando fazer com o coitado. Neste dia, ele ficou muito preocupado. Afinal, ele já tem uma idéia de como seu voto é "importante". Está convencido de que pode mudar o mundo através do voto. Será a porta de entrada para acabar com tudo o que está de errado na política, basta escolher bem o candidato - sentencia em sua última reflexão antes de ir às urnas.

Ao sair de casa lembra das músicas que gosta de ouvir. Odeia cultura popular. Acredita que um candidato afinado com a alta cultura irá pôr fim àquelas músicas de baixo calão, muitas das quais se misturam aos "hits" da campanha eleitoral. O voto transforma - pensa ele! Neste momento vem a mente uma música de sucesso, sabe que representa bem o que os donos do poder estão fazendo com a gente, há mais de 500 anos - a velocidade é lenta. Não consegue lembrar o nome. É a dança do que mesmo? Deixa pra lá... ele não gosta de ouvir essas coisas.

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