O último domingo marcou mais uma data vergonhosa, imposta aos trabalhadores brasileiros pelo calendário consumista da ideologia norte-americana. Segundo a Serasa Experian, houve um acréscimo de 8,8% nas vendas - em relação ao mesmo período do ano passado - durante a semana que antecedeu o dia 14 de agosto, data correspondente à comemoração do Dia do$ Pai$, agendada anualmente para o segundo domingo deste mês. Mas o que mais impressiona é a falta de bom senso da maior parte das pessoas, já em idade adulta, quando se aproximam tais “datas comemorativas”. Infelizmente, mercantilizar o amor, o afeto e o carinho já são práticas naturalizadas, seja em relação a pais, mães, filhos ou cônjuges.
Desde quando é possível valorar sentimentos por meio da troca simbólica de produtos, na maioria dos casos, dispensáveis? A questão é pertinente e precisa ser discutida. Não raras às vezes, famílias com renda insuficiente para suprir necessidades básicas de subsistência se veem submersas na lógica consumista que baliza as relações afetivas. O convencimento se dá de várias maneiras, mas, sem sombra de dúvidas, o jogo sujo das campanhas publicitárias aliado às “reportagens festivas” das megacorporações midiáticas, contribui significativamente para fortalecer as regras nefastas do sistema capitalista.
Chega a ser infame. Você ama? Dê um presente. Não tem dinheiro? Dá um jeito. Faz um empréstimo. Compra nem que seja uma “lembrancinha”, mas não deixa de gastar “algum”. O importante é consumir. Não dá para comprar “aquele presente”? Então, que seja uma meia, uma gravata, um lenço, uma carteira. Qualquer coisa. O mercado precisa lucrar. Empresários, dos mais variados ramos, estão afoitos para faturar e, ao trabalhador, cabe o papel de protagonista deste processo degradante.
Origem ideológica
Levando em conta a suposta “origem” do chamado Dia do$ Pai$ é claramente perceptível o tamanho da babaquice. No âmbito escolar chega a ser traumatizante. Quem nunca foi obrigado a participar de uma homenagem do Dia do$ Pai$ quando era criança? Lembro de colegas que não conheciam seus genitores, muitos nunca haviam sequer trocado uma só palavra com eles. Outros mal sabiam se estavam vivos, mas, mesmo assim, eram constrangidos pelos professores sendo obrigados a participar das “comemorações”. A solução encontrada para suprir essa ausência era fazer uma “dedicatória” ao padastro, avô, tio ou outro parente próximo qualquer. A lenga lenga contada nas salas de aula é referendada em portais da internet dedicados ao fornecimento de cartões virtuais. É só procurar. Não faltam explicações sobre o porquê de se induzir as pessoas a gastarem dinheiro em datas como essa.
O discurso dominante, reproduzido em escolas e meios de comunicação, vai contar a história de um tal de Elmesu, que viveu há mais de 4 mil anos na Babilônia e esculpiu uma estátua dedicada ao seu progenitor. Recordo-me dessa história sendo exaustivamente narrada nos tempos de colégio. A maior parte dos estudantes ficava pensando o que isso tinha a ver com a sua realidade. Diga-se de passagem, eram crianças afoitas em agradar seus pais. Queriam fazê-los orgulhosos. Contudo, como já disse, além dessas, havia as que não os conheciam ou, simplesmente, os odiavam. Não cabe aqui destacar o porquê da repulsa de cada um dos meninos e meninas. Os motivos eram muitos e, garanto, justificáveis. Ficavam se perguntando por que deveriam “esculpir” um desenho em homenagem a um ser que consideravam desprezível.
Imposição cultural
A tolice que representa a comemoração do Dia do$ Pai$, e qualquer outra similar, só toma ares de seriedade quando se explicita a imposição dos valores dominantes através da expropriação do dinheiro suado da classe trabalhadora. Motivo pelo qual esta “data festiva” foi sumariamente importada dos Estados Unidos para ser incorporada ao calendário tupiniquim. Reza a lenda que, no início do século XX, a filha de um ex-soldado norte-americano, que lutou na Guerra da Secessão - conhecida também por Guerra Civil (entre 1861 e 1865), quis homenageá-lo, pois teria, este homem, criado a ela e seus cinco irmãos sozinho, após ficar viúvo. Façanha realizada por milhares de pais, mães, irmãos e tantos outros que nem laços familiares possuem para com crianças de todo o mundo.
No entanto, o “homenageado” não era apenas "um bom pai". Era um veterano de guerra. William Jackson Smart, pai de Sonora Smart Dodd e outras cinco crianças, lutou ao lado das forças do Norte durante a Guerra Civil. Após o combate, alistou-se ao Grande Exército da República, organização destinada a acolher soldados dispensados da chamada União. As tropas deste grupo, formadas por 23 estados, eram defensoras do rápido desenvolvimento industrial, cuja mão de obra e as condições para o crescimento econômico, alicerçadas no mercado, dependiam exclusivamente do trabalho assalariado. Rechaçavam, portanto, os, não menos oportunistas, latifundiários do Sul, raivosos defensores do escravagismo. Ao contrapor a aristocracia agrária evidenciavam a necessidade do estabelecimento de barreiras protecionistas e incentivos fiscais, visando impulsionar o mercado interno. Em síntese, queriam acabar com a escravidão direta e, indiretamente, começavam a “esculpir” outro tipo de escravidão não muito longe dali, a simbólica.
Na década de 1950, como bons servos da cultura ianque, o publicitário Sylvio Bhering e o empresário Roberto Marinho, então presidente das Organizações Globo, resolveram aquecer as vendas do comércio incentivando a incorporação do Dia do$ Pai$ ao calendário de “festividades nacionais”. Na época, o jornal O Globo propunha que a adoção desta data permitiria reunir a família em torno do “chefe da casa”, ou ainda, do "líder da prole".
Desde quando é possível valorar sentimentos por meio da troca simbólica de produtos, na maioria dos casos, dispensáveis? A questão é pertinente e precisa ser discutida. Não raras às vezes, famílias com renda insuficiente para suprir necessidades básicas de subsistência se veem submersas na lógica consumista que baliza as relações afetivas. O convencimento se dá de várias maneiras, mas, sem sombra de dúvidas, o jogo sujo das campanhas publicitárias aliado às “reportagens festivas” das megacorporações midiáticas, contribui significativamente para fortalecer as regras nefastas do sistema capitalista.
Chega a ser infame. Você ama? Dê um presente. Não tem dinheiro? Dá um jeito. Faz um empréstimo. Compra nem que seja uma “lembrancinha”, mas não deixa de gastar “algum”. O importante é consumir. Não dá para comprar “aquele presente”? Então, que seja uma meia, uma gravata, um lenço, uma carteira. Qualquer coisa. O mercado precisa lucrar. Empresários, dos mais variados ramos, estão afoitos para faturar e, ao trabalhador, cabe o papel de protagonista deste processo degradante.
Origem ideológica
Levando em conta a suposta “origem” do chamado Dia do$ Pai$ é claramente perceptível o tamanho da babaquice. No âmbito escolar chega a ser traumatizante. Quem nunca foi obrigado a participar de uma homenagem do Dia do$ Pai$ quando era criança? Lembro de colegas que não conheciam seus genitores, muitos nunca haviam sequer trocado uma só palavra com eles. Outros mal sabiam se estavam vivos, mas, mesmo assim, eram constrangidos pelos professores sendo obrigados a participar das “comemorações”. A solução encontrada para suprir essa ausência era fazer uma “dedicatória” ao padastro, avô, tio ou outro parente próximo qualquer. A lenga lenga contada nas salas de aula é referendada em portais da internet dedicados ao fornecimento de cartões virtuais. É só procurar. Não faltam explicações sobre o porquê de se induzir as pessoas a gastarem dinheiro em datas como essa.
O discurso dominante, reproduzido em escolas e meios de comunicação, vai contar a história de um tal de Elmesu, que viveu há mais de 4 mil anos na Babilônia e esculpiu uma estátua dedicada ao seu progenitor. Recordo-me dessa história sendo exaustivamente narrada nos tempos de colégio. A maior parte dos estudantes ficava pensando o que isso tinha a ver com a sua realidade. Diga-se de passagem, eram crianças afoitas em agradar seus pais. Queriam fazê-los orgulhosos. Contudo, como já disse, além dessas, havia as que não os conheciam ou, simplesmente, os odiavam. Não cabe aqui destacar o porquê da repulsa de cada um dos meninos e meninas. Os motivos eram muitos e, garanto, justificáveis. Ficavam se perguntando por que deveriam “esculpir” um desenho em homenagem a um ser que consideravam desprezível.
Imposição cultural
A tolice que representa a comemoração do Dia do$ Pai$, e qualquer outra similar, só toma ares de seriedade quando se explicita a imposição dos valores dominantes através da expropriação do dinheiro suado da classe trabalhadora. Motivo pelo qual esta “data festiva” foi sumariamente importada dos Estados Unidos para ser incorporada ao calendário tupiniquim. Reza a lenda que, no início do século XX, a filha de um ex-soldado norte-americano, que lutou na Guerra da Secessão - conhecida também por Guerra Civil (entre 1861 e 1865), quis homenageá-lo, pois teria, este homem, criado a ela e seus cinco irmãos sozinho, após ficar viúvo. Façanha realizada por milhares de pais, mães, irmãos e tantos outros que nem laços familiares possuem para com crianças de todo o mundo.
No entanto, o “homenageado” não era apenas "um bom pai". Era um veterano de guerra. William Jackson Smart, pai de Sonora Smart Dodd e outras cinco crianças, lutou ao lado das forças do Norte durante a Guerra Civil. Após o combate, alistou-se ao Grande Exército da República, organização destinada a acolher soldados dispensados da chamada União. As tropas deste grupo, formadas por 23 estados, eram defensoras do rápido desenvolvimento industrial, cuja mão de obra e as condições para o crescimento econômico, alicerçadas no mercado, dependiam exclusivamente do trabalho assalariado. Rechaçavam, portanto, os, não menos oportunistas, latifundiários do Sul, raivosos defensores do escravagismo. Ao contrapor a aristocracia agrária evidenciavam a necessidade do estabelecimento de barreiras protecionistas e incentivos fiscais, visando impulsionar o mercado interno. Em síntese, queriam acabar com a escravidão direta e, indiretamente, começavam a “esculpir” outro tipo de escravidão não muito longe dali, a simbólica.
Na década de 1950, como bons servos da cultura ianque, o publicitário Sylvio Bhering e o empresário Roberto Marinho, então presidente das Organizações Globo, resolveram aquecer as vendas do comércio incentivando a incorporação do Dia do$ Pai$ ao calendário de “festividades nacionais”. Na época, o jornal O Globo propunha que a adoção desta data permitiria reunir a família em torno do “chefe da casa”, ou ainda, do "líder da prole".
Hoje, enquanto muitos se acotovelam nas lojas, esbarram uns nos outros pelas ruas e trocam olhares inverossímeis ao “presentearem” seus pais, recordo-me com saudades e muito carinho do meu velho. Das muitas coisas que aprendi com ele, uma é de conhecimento de todos, mas nem sempre costuma ser lembrada. Por mais que se tente, jamais será possível mensurar ou valorar o amor.
3 comentários:
Há tempo que não dou presente em dia das mães, dia dos pais ou dar parabéns por um dia que, como você bem colocou, serve para atiçar o comércio num período de entressafra, enquanto não chega o Natal. Meus pais nem perguntavam ou pediam nada porque sabiam a minha resposta.
Pai e mãe, os que merecem, têm que receber agradecimentos todos os dias do ano.
Du- Meu filho, sou suspeita para falar sobre o que escrevesses sobre o dia dos pais, porque sou tua mãe, mas sou testemunha de quanto tu amavas e ainda amas o teu pai, mesmo que ele esteja do outro lado da vida.Lembro de que muitas vezes, no dia dos pais, tu ainda criança, em casa, preparavas um cartão p/ o teu pai e escrevias p/ ele com o teu coração e quando, ao receber o teu cartãozinho,ele enchia os olhos de lágrimas e dizia: Meu filho eu te amo!, parece q/ ele já pressentia o teu dom de escrever, e de falar com a alma. Tens razão, quando escreves que não se deve materializar o amor. Quantos pais, no dia a dia, não ouvem seus filhos e vice-versa, mas os costumes e os comerciais lhe fazem comprar o que podem e o que não podem ! Acho que o presente poderá ser dado em qualquer dia, quando se pode. No dia dos pais e em todos os outros dias da nossa vida, basta dizer: EU TE AMO ! e ser sempre um FILHO COMO TU ! que todos pais gostariam de ter ! BJS Te amooooo...
Pô mãe, sem palavras. Depois do teu comentário só posso te dizer uma coisa: TE AMO!
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