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quarta-feira, 20 de julho de 2011

O que Murdoch, Teixeira e a Seleção Brasileira de Futebol têm em comum?

O escândalo das escutas ilegais, na Inglaterra, acabou freando as negociações da News Corporation com a British Sky Broadcasting (BSkyB). A meu ver, trata-se de um fato impensável há poucos meses atrás. Para queimar a minha língua - e como é bom que isso tenha acontecido - essa transação não se concretizou.

Em maio deste ano escrevi um artigo para a edição 360 da Revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU On-Line), onde, entre outras coisas, afirmava: “a News Corporation obteve o sinal verde para evitar uma análise da operação e começar a negociar os termos do acordo do contrato, efetuando a compra total das ações da transmissora de TV por satélite BSkyB, algo em torno de 14 bilhões de dólares” (Ver aqui). Sim, eu dava como certa a compra do restante das ações da rede de TV britânica pelo magnata das comunicações Rupert Murdoch, atualmente proprietário de 39% dos títulos. Parecia algo tão claro como a impossibilidade da seleção brasileira errar quatro cobranças de pênalti, em sequência, nas quartas de final da Copa América.

Murdoch escuta demais e enxerga de menos

A transação estaria efetivada, não fosse a prepotência de Murdoch. Justificada apenas pelo seu desatino megalónomo de onipresença. Pois é, quem diria? Na semana passada, os parlamentares ingleses já estavam com uma moção prontinha para minar com as pretensões de um dos mais temíveis velhacos das indústrias da comunicação mundial. Assim, a News Corp. se viu obrigada a recuar, principalmente após o fechamento do News of the World, publicação inglesa que chegou a liderar o ranking dos tablóides mais vendidos no mundo.

O escândalo dos grampos ilegais criou um cenário digno de filme de espionagem. No qual centenas de pessoas públicas têm suas intimidades controladas por uma espécie de “cafetão” da chamada “imprensa people”. A postura do parlamento britânico - que poderia ter sido adotada antes, caso houvesse vontade política para isso - só se justifica pelo receio dos congressistas em entrar na mira do orelhudo internacional. Por outro lado, o fim do tabloide e a impossibilidade em concretizar a compra do restante das ações referentes à BSkyB não acabam com o poder de Murdoch. Através da News International, sobretudo com a penetração de The Sun e The Times, o magnata continua exercendo forte influência nas decisões políticas do país.

No Brasil: Teixeira fala demais e escuta muito pouco

Seria engraçado, não fosse revoltante, a forma como os donos do poder se portam perante a opinião pública. Enquanto Murdoch se acha no direito de usar de qualquer subterfúgio possível para ter acesso à vida privada de políticos, celebridades e nobres britânicos, o “rei do futebol brasileiro”, - não estou me referindo a Pelé, este pode ser considerado, no máximo, príncipe, se comparado ao verdadeiro dono da bola no Brasil – mister Ricardo Teixeira, sente-se no direito de falar o que bem entender. Afinal de contas já foi cotado até para suceder Joseph Blatter no comando da FIFA e, na época, o “príncipe Pelé” fez questão de manifestar apoio inequívoco ao "rei".

Em recente entrevista concedida à revista piauí, Teixeira fez pouco caso das investigações judiciais que o acusam de estar envolvido em crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal. O processo esteve em evidência há mais de dez anos, época em que a CPI da CBF/Nike foi arquivada pelo Ministério Público. Isso só fez aumentar a sensação de poder absoluto do genro de João Havelange, ex-presidente da extinta Confederação Brasileira de Desportos (CBD), de 1956 a 1974, hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Em sua declaração pública, o verdadeiro “rei do futebol brasileiro”, disse estar “cagando” para as denúncias que circulam na mídia, pois, segundo relata, só ficará preocupado “quando as acusações saírem no Jornal Nacional”. A fala arrogante e o perfil autoritário são marcas do desvario magalómano que, além de Murdoch, também o atinge. Mania de grandeza assegurada pela atuação em conluio com o maior conglomerado de mídia da América Latina. Rede Globo e Ricardo Teixeira têm uma relação antiga, onde o silêncio da família Marinho sobre os processos e negociações do presidente da CBF assegura a hegemonia dos direitos de transmissão dos jogos das "celebridades futebolísticas”.

Os "Astros" da Seleção falam e escutam pouco, mas enxergam menos ainda

Não quero mexer com as paixões do brasileiro. Não sou louco nem nada. Mas é preciso cavoucar um pouco mais o buraco no qual a Seleção Brasileira de Futebol caiu. Não é nada disso. Não estou me referindo àquele pequeno desnível na marca do pênalti, o qual, segundo os jogadores, prejudicou os arremates finais na partida contra o Paraguai, válida pelas quartas de final da Copa América.

O buraco que me refiro é mais em baixo. Eu sei, está cada vez mais difícil de vestir com orgulho a camisa da Seleção e isso nada tem a ver com resultados. O problema é a identificação com o simbólico. Essa aproximação é fruto de uma mistura pretensiosa, capaz de, pouco a pouco, alienar o mais fiel torcedor e levá-lo a descrença total no futebol. Basta somar a influência de Teixeira nos bastidores da cobertura futebolística com a hiper-valorização da publicidade em torno dos "notáveis boleiros" e, para finalizar, ter de assistir aos jogos por intermédio da linguagem pedante da Rede Globo.

Só podia dá “m....”. Opa! Desculpa. Prefiro não utilizar palavras de baixo calão neste post. Não quero correr o risco de ser mal interpretado. Voltando ao que interessa, preciso ser franco, é “f...” ver Mano Menezes de garoto-propaganda da AmBev; Ganso, Neymar e Robinho dançando com a camisa canarinho na propaganda da Seara, ao som de “Single Ladies”, e por aí vai. Neymar é o artilheiro e protagonista da maioria dos comerciais. Nike, Nextel, Guaraná Antártica e até talco desodorante para os pés fazem parte da promissora carreira do garoto de 19 anos, símbolo do "futebol-arte". Qual o resultado de toda essa exposição midiática? Sair em destaque na revista Veja, com o título “Reymar” estampado bem na capa.

A midiatização do menino da Vila é boa para o chefão do futebol nacional. O tal “Reixeira” dificilmente tem seu império contestado nos meios de comunicação tradicionais. Claro, alguém dirá: - e a Record? Sim, esta emissora entrou em pé de guerra com a Globo. Mas, infelizmente, não passa de mera disputa por audiência. Nada mais do que isso. Edir Macedo ficou mordido com a perda dos direitos de transmissão da Copa do Mundo e, recentemente, do Campeonato Brasileiro. Por essas e por outras permite que os ex-globais Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna e Luiz Carlos Azenha desçam o pau em Teixeira e sua fiel escudeira. Olha, em briga de Bispo e família capacho do Regime Militar é melhor não tomar partido, pois, se mexer nessa cumbuca, vai feder para os dois lados.

Podres poderes: é hora da mobilização popular

Estão acabando com a alegria do povo. Como já disse aqui, em outro post, hoje tem dia e hora para assistir futebol. Acontece que o acordo em relação a datas e horários ocorre longe da opinião dos torcedores. Atende única e exclusivamente aos interesses dos canais privados. Fora isso, nos noticiários, informações verdadeiramente importantes, como o caso dos grampos na Inglaterra, são veiculadas sem a devida contextualização dos fatos e, propositadamente, não se debate a regulamentação da mídia, assunto de extrema relevância para se concretizar a democratização da comunicação no Brasil.

Resultado: Teixeira dá um "bago" na democracia, mandando-a às favas; Murdoch escuta a caixa registradora tilintar, lucrando em ritmo de goleada, e os jogadores da Seleção reclamam do gramado, chutando a bola nas arquibancadas. Deve ter sido em sinal de protesto. Só pode. Aonde já se viu “jogatores” (jogadores + atores) terem de se apresentar em palco tão inapropriado? Resta, a nós, os “torcepectadores” (torcedores + espectadores) ressuscitarmos o espírito aguerrido das expressões populares, constantemente presente nas atividades esportivas. Quiçá possamos reclamar deste verdadeiro circo, ao qual somos submetidos diariamente, e, nesse sentido, tenhamos força suficiente para promover a subversão do quadro atual.

Quando nos dermos conta do quanto as coisas estão intimamente conectadas, entenderemos melhor o novo bordão da família Marinho: "Globo - A gente se liga em você". Ao invés de bola, talvez “cabeças comecem a rolar”, no bom sentido é claro, falo em destronar alguns reis da mídia. Para isso, contudo, é necessário resgatar a indignação. Estamos acostumados a driblar adversidades, mas precisamos de entrosamento. Temos que realizar mais coletivos. Partindo para o ataque, sem descuidar da defesa e armando boas jogadas no "meio", certamente chegaremos ao gol. Essa vitória o Galvão Bueno não vai querer narrar, ou ainda, "essa conquista não será televisionada".

2 comentários:

Anderson Santos disse...

O texto está bem legal, a relação é boa. Mas fica uma pergunta de uma divergência num ponto do texto: Neymar faz tanta propaganda porque joga muita bola ou dizem que joga muita bola porque faz tanta propaganda?

A minha opinião, por mais marrento que seja, o Neymar é um bom jogador e pode ser um grande craque - Robinho poderia e naufragou. Segurou o time na Libertadores. Ganso jogou muito até o ano passado, de lá para cá é só o sonho do "meia clássico" que todos esperam, mas as lesões não deixam.

Não sei se "estão acabando com a alegria do povo". Futebol é mais que assistir, é poder disputá-lo em qualquer lugar. E você sabe muito bem que quando se entra no estádio, seja no Bento Freitas ou no Rei Pelé, e seu time está ganhando, a alegria aparece.

Vanessa Silveira disse...

Muito bom Dudu. Adorei: "Olha, em briga de Bispo e família capacho do Regime Militar é melhor não tomar partido, pois, se mexer nessa cumbuca, vai feder para os dois lados". O texto está muito bem escrito e a contextualização dos fatos é necessária para fortalecermos a opinião pública.

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