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sábado, 24 de outubro de 2009

Estante Virtual: há quatro anos democratizando a cultura

Recebi a informação de que a Estante Virtual, portal da internet que reúne milhares de sebos de todo o Brasil, acaba de completar quatro anos de existência. Uma grande iniciativa, devendo ser evidenciada por todos que reconhecem a leitura como instrumento de transformação social.

Teoria e prática lado a lado, para não incorrer no erro do pragmatismo exagerado ou da supervalorização de um conhecimento meramente especulativo. Prática sem teoria leva a falta de espaço para o contraditório e a reflexão: seja pela incompreensão do que está sendo feito, ou, pela insistência em seguir as poucas "cabeças pensantes". De outro modo, teoria sem prática, é como compor uma linda canção sem que jamais ela seja ouvida e toque o coração de alguém. Não seria arriscado dizer que teoria sem prática é fazer música com o instrumento dos outros. Só para não usar um exemplo mais malicioso, que também se encaixaria muito bem aqui...

Na edição de outubro da revista Caros Amigos, a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Virgínia Fontes, fala com toda a autoridade de quem viveu a história e faz dela seu meio de sustento. Ela discorre sobre a importância de se remobilizar os movimentos sociais e sindicatos para promover o que chama de luta anticapitalista. Hoje, ela atua junto os movimentos populares, inclusive o MST, auxiliando na formação política dos trabalhadores rurais, mas, para chegar a esse nível de contribuição social, revela: "passei uns 10 anos afastada da militância e mais estudando. Sempre fui muito estudiosa, então fiz a faculdade de História, depois o mestrado em História na Universidade Federal Fluminense..."

A leitura é capaz disso. Ela transforma as pessoas, modifica suas perspectivas diante dos fatos, dá significado às bandeiras de luta e disponibiliza as ferramentas de atuação junto aos movimentos sociais. O livro é como uma metralhadora nas mãos de quem sabe utilizá-lo, atingindo as dúvidas e matando as curiosidades. No entanto, algumas editoras ainda não "compreenderam" o papel social do livro e continuam tabulando os preços de venda de acordo com a lógica de mercado. O abuso no valor de algumas obras mantém afastada a maior parte da população, criando os guetos culturais e formando-se os grupos pseudo-eruditas.

É aquela turma que não deixa de ler um livro do Paulo Coelho, mas, muitas vezes, despreza, ou até mesmo, desconhece, escritores como: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha e Lima Barreto (esse de vital importância para os jornalistas). Mas isso é só para citar os mais conhecidos. Figuras do calibre de Raduan Nassar, por exemplo, que na sua efêmera vida de escritor, tanto quanto pode, encheu de emoção aqueles que se debruçaram sobre seus livros, nem de perto são lembrados. Para desespero dos que prezam por uma boa leitura, ficam alienadas obras como: "Um copo de cólera" ou "Lavoura Arcaica".

E o que falar de Hemingway? Um dos primeiros autores que tive contato, sendo transportado à brilhante história do pescador que dá lição de vida, e do menino que lhe tem como exemplo. Numa sociedade em que os jovens, cada vez mais, desprezam a experiência e os velhos vivem pelos cantos, excluídos e rejeitados, é um bom exercício de reflexão ler "O Velho e o mar".

Quero parar de citar autores mas não consigo. Não posso deixar de fazer referência a Gabriel Garcia Marques e José Saramago, dois gênios da literatura contemporânea, de elevada crítica social e responsáveis por diálogos interpessoais belíssimos. Não será exagero, portanto, dizer que, uma estante capaz de disponibilizar mais de 20 mil livros, entre novos e usados, se constituí, hoje, num arsenal poderoso para educar a sociedade e promover uma atuação política consciente.

E por meio de qual tecnologia esse recurso está disponível? Com certeza essa revolução na distribuição de obras literárias só poderia ser promovida pela web. A rede mundial de computadores já está causando tanta dor de cabeça nas elites que o senador tucano, Eduardo Azeredo, chegou a propor uma lei para barrar as possibilidades de interação via internet, como a troca de arquivos através de download. (Veja mais sobre o assunto clicando aqui)

Quem disse que brasileiro não lê?

Como revela a reportagem “A máquina de vender Livros" , de Fábio Bueno Netto, para o Le Monde Diplomatique Brasil (dezembro de 2008), o brasileiro, não só, "lê, como, gosta de ler, sabe escolher e é muito exigente". A afirmação está baseada em canais de distribuição de obras literárias, com vários títulos de baixo custo e que estão dispostos nos metrôs do Rio de Janeiro e São Paulo, para chamar a atenção do leitor. A máquina de vender livros (figura ao lado), funciona como aquelas de vender refrigerante, é só escolher o título, apertar o botão, pegar seu exemplar e pronto! Claro depois é necessário ler, mas isso, como dá para perceber, não é o "real" problema.

É por essas, e por outras, que novas iniciativas, como a Estante Virtual e a Máquina de Vender Livros, merecem destaque e respeito. Afinal, a leitura, ao contrário do que é concebido desde a mais tenra infância, não pode tornar-se algo chato, enfadonho e de caráter meramente decorativo. Ela é, ao contrário, um alimento; a fonte de inspiração, o ápice de toda atividade reflexiva, a qual se pretende crítica e revolucionária. Ler é reler e compreender. É transpor dogmas ou ceticismos, transcendendo o senso comum. Estar diante de um livro, seja ele qual for, é o mesmo que encontrar-se na frente de uma porta com a mão na maçaneta. Abri-la, é uma escolha sua, mas ao entrar dificilmente terá volta, aquela descoberta é sua para sempre e jamais sairá da sua mente.

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