
Infelizmente ainda reina, por aqui, uma mentalidade atrasada e provinciana, capaz de valorizar mais "os de fora" do que "os daqui". Pior ainda são aqueles que se dizem progressistas, mas, no fundo, têm o espírito tomado por esta prática preconceituosa e excludente. Deixando transparecê-la, mais cedo ou mais tarde, sobretudo quando sentem-se acuados pelo talento dos outros.
E, falando em produção local, acredito que um dos destaques da Feira do Livro deste ano seja o lançamento de "A noite que não acabou". Publicado pela Editora Mundial, a obra contém 300 páginas e conta a história do acidente ocorrido com a delegação do Grêmio Esportivo Brasil, no início deste ano. No acidente, morreram o preparador de goleiros Giovani Guimarães e os jogadores: Régis Gouveia e Cláudio Milar, este último o maior ídolo da história recente do clube.
Os autores da obra semp

Confesso que ainda me causa muita tristeza lembrar o dia da tragédia. Para mim, que torço para o Brasil desde que me conheço por gente e tenho neste clube minha única paixão futebolística, tudo que o envolva acaba emocionando. Com certeza lerei o livro. Pode até não ser uma tarefa das mais fáceis, mas acredito que trata-se de um registro histórico do que ocorreu e serve não só para documentar esta etapa triste da vida do clube, como também para mostrar o quão frágeis nós somos e, portanto, a importância de se fazer o melhor enquanto estivermos por aqui.
O lançamento acontece neste sábado (31), às 18hs, na Praça Coronel Pedro Osório. Em Porto Alegre a obra será lançada na próxima quarta-feira, dia 4 de novembro, às 17h30min, na Praça da Alfândega.
Onde a flecha pode chegar?

Não acredito na real identificação dos torcedores que dizem ter uma relação de respeito pelo seu "ídolo", mas nunca estiveram perto dele. A proximidade se dá porque ele está na mídia, ou, porque deu para a torcida mais um título "fictício", já que os únicos a lucrarem com tais conquistas são dirigentes e patrocinadores. Também nunca vi torcedor com troféu de campeão mundial em casa e nem medalha no peito. No máximo um pôster ou uma camiseta, onde o cara que assinou o seu autógrafo, hoje, joga no time adversário, beija aquele distintivo e manda a torcida se f....
O interior resiste: uma paixão construída tijolo por tijolo

Um sentimento singular, que, aos domingos, encontra o coletivo e, mesmo quando todos se tornam cientes da discrepância financeira, da má distribuição de renda, que atinge até mesmo o futebol, não transforma-se em desânimo. Ao contrário, torna-se resistente. Faz dessa afronta financeira motivo para a criação de gritos de guerra. Motivo para defender a sua própria condição e mudar o seu destino. Para tornar-se vencedor e ser verdadeiramente campeão.
Acredito também na perseverança, no brio e na garra de toda gente humilde e batalhadora que desce a rua Princesa Isabel com o coração explodindo de alegria. Esse povo não está indo ver uma partida de futebol, se dirige à sua verdadeira casa. Um templo sagrado para os religiosos, um campo de batalha para os guerreiros, uma escola de vida para todos nós.

Na Baixada, no caldeirão, na nossa casa, já entramos em polvorosa, mas também ficamos em silêncio. Já brigamos por amor e sofremos pela perda. Já xingamos de raiva e calamos por respeito. Já nos sentimos envergonhados pelo vexame e orgulhosos pelo exemplo. Já mandamos alguém embora, mas choramos quando partiram. Já saímos irritados, prometemos nunca mais voltar, mas estamos sempre lá. Porque é naquele espaço que encontramos o nosso melhor.
Somos Xavantes, não temos nada para provar a ninguém e perpetuamos esse sentimento geração por geração. Não estamos buscando as "taças" do vizinho, nem nos preocupamos com os ornamentos que cada um utiliza para enfeitar a sua casa. Estamos ali porque a cada gol saímos vitoriosos e, a cada vitória, sabemos que atingimos o nosso objetivo. É na derrota que mostramos como somos grandes e na vitória que experimentamos onde podemos e, com certeza, iremos chegar. Mais uma vez juntos, tijolo por tijolo, degrau por degrau...