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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Revoltas, revoltosos e atitudes revoltantes...

A recente midiatização das revoltas árabes e das manifestações européias, por parte da mídia comercial brasileira, evidencia o jogo sujo da manipulação midiática. Na busca aviltante pela defesa dos interesses do capital financeiro descarta-se o caráter político das práticas sociais, rebaixando-as ao campo tecnológico e, nesse sentido, descaracterizando as reais potencialidades dos movimentos organizados.

Redes sociais, como o Facebook, estariam contribuindo decisivamente para concretizar avanços democratizantes em cada região sublevada. Criam-se neo-revolucionários, os quais são descritos como “bem educados e insatisfeitos com as restrições à liberdade”. Aparentemente não assustam os donos do poder, sobretudo os Estados Unidos, pois estariam operando no limite da confrontação política, em caráter local. Na prática, evidencia-se o contrário; um movimento autoproclamado altermundista, no qual a internet tem caráter meramente instrumental e sua força de atuação manifesta-se na coletividade resultante da ação direta.

O que está sendo publicizado pela mídia convencional não contribui, por exemplo, para desmoralizar a ordem política e econômica responsável por sentenciar o fim do Estado do Bem-Estar Social - Welfare State - na Espanha, bem ao gosto da Comissão Européia e do FMI. No mesmo sentido, essas construções midiáticas em nada têm ajudado a explicar o desprezo da população grega para com os principais partidos políticos do país, tanto o Conservador, quanto o Socialista. Há décadas ambos se revezam no poder sem, no entanto, modificarem as relações de exploração e as injustiças sociais. Redução de salários, aumento real do desemprego, carência na prestação de serviços públicos e piora da condição material de vida da população contribuem para o crescimento das pressões por parte dos movimentos sindical e estudantil.

Por seu turno, a suposta democratização dos países árabes conta com a fiscalização intransigente do Departamento de Estado norte-americano. Em outros tempos, Estados Unidos e Inglaterra já foram aliados do ditador líbio, Muammar Kadafi, mas a lógica estadunidense, do complexo industrial-militar, opera sob a égide da corrida armamentista e, nessa direção, tomam-se atitudes capazes de assegurar o controle do Império, ou ainda, que não deixem a economia arrefecer. Nos anos 80, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan, investiu no aumento do arsenal militar e, mesmo após o trauma da derrota na Guerra do Vietnã, contou com o apoio massivo da população para sua investida contra os países árabes. Reagan soube utilizar muito bem a imagem do tirano Kadafi e, conseqüentemente, sua representatividade enquanto potencial ameaça terrorista, como hoje o faz Barack Obama.

Embora pouco se discuta, as sublevações árabes e européias apresentam aspectos de confrontação histórica que ultrapassam o campo de domínio da democracia liberal e seu fetichismo tecnológico. Para além das reformas democráticas deve-se evidenciar a crítica ao autoritarismo, a busca pela efetiva distribuição de poder e a rejeição ao modelo neoliberal. Na Espanha, os manifestantes têm tomado as ruas para expressar um fervoroso descontentamento com as reformas postas em curso pelo governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero. A motivação do movimento, conhecido por indignados, até pode ser encarada sob o ponto de vista do interesse particular, mas só costuma atingir proporções de real pressão ao poder institucionalizado quando manifesta-se em caráter coletivo.

A luta contra a redução das proteções sociais e flexibilização das relações trabalhistas, atualmente em curso, confronta-se diretamente com a lógica neoliberal, mas, propositadamente, seu processo histórico deixa de ser problematizado pela mídia. Desse modo, ignora-se a disputa de classes e não se reivindica a necessidade de superação do modelo econômico vigente. A ênfase clássica recai sobre falsas democracias, falsos insurretos e falsas noções de liberdade, inculcadas no conjunto da população por meio de acepções liberais, sem a devida contextualização dos fatos.

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