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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Relembrando a leitura de Ernesto Sabato

Para minha surpresa recebi um e-mail hoje, dia 18/5, dando conta da publicação de uma resenha que fiz, em 2009, sobre o livro O Túnel, de Ernesto Sabato. A mensagem foi encaminhada por João de Deus Neto, que é Designer gráfico, caricaturista e blogueiro. Ele mantém o PicinezBlog (agora adicionado à minha lista de blogs, na coluna da direita). Ótimo espaço de crítica literária onde, inclusive, é possível ter acesso à leitura de algumas obras completas, como o livro Pé na Estrada de Jack Kerouac. Forte exemplo de democratização da cultura!

Motivado por esta boa lembrança estou postando novamente a resenha de O Túnel aqui no Exílio Midiático, pois, infelizmente, sigo sem muito tempo para novas postagens. De qualquer forma, este foi mais um estímulo para retornar à ficção. Sinto falta dos momentos em que era possível estar mais próximo de contos, crônicas e romances e, por outro lado, não tão focado em livros técnicos e científicos, pouco ou nada convenientes a releitura de si mesmo. Quanto mais passam os anos mais me convenço que a vida é uma grande ficção, sendo, cada um de nós, responsáveis por escrevê-la e narrá-la da forma como nos for mais proveitoso.

Abaixo a resenha em questão. A quem interessar possa, fica a dica deste belíssimo livro. Uma boa porta de entrada para a obra deste grande autor argentino. Boa leitura.

Não havia lido nada escrito por Ernesto Sabato, doutor em física, que deixou a carreira científica para enveredar pela arte. No livro “O Túnel”, impressiona a forma simples com que o autor trabalha sentimentos comuns a todos os seres humanos, tais como o ciúme e a possessividade, os quais tomam ares de seriedade e conduzem o personagem à loucura.

O livro é intenso. Não permite ao leitor pausas para respirar. A cada página a interação entre leitor e personagem torna-se profunda. A história do assassinato de Maria Iribarne, contada pelo próprio criminoso, Juan Pablo Castel, é uma estratégia utilizada pelo autor para conversar diretamente com os leitores, enquanto expõe as angústias e o sofrimento da personagem.

Não há suspense e romance melhor do que aquele que, embora seja previsível, ainda surpreenda. É isso que ocorre neste livro. Nas primeiras linhas o criminoso já assume: “bastará dizer que sou Juan Pablo Castel, o pintor que matou Maria Iribarne...”. Porém, é no encadeamento, nada lógico, e no conflito constante de idéias, que iremos nos deparar com as formas mais complexas que a vida amorosa pode assumir e, ainda, com as experiências mais sinceras que a solidão pode proporcionar.

O nosso protagonista, no entanto, não se envergonha ou lastima por ser assim – um ser afastado de todos e de tudo - muito pelo contrário, ele sente orgulho de sua característica. Sente, na verdade, verdadeira repulsa à sociedade e às relações humanas, as quais julga ser, ao mesmo tempo, sujas e opulentas.

Castel impressiona em todos os sentidos. Faz com que o leitor releia a própria condição humana através da experiência contida em uma perspectiva de sociedade, sendo esta traçada pela visão de um solitário e idealista do amor.

Nada escapa as conjeturas deste incrível personagem. Capaz de refletir várias vezes antes de tomar uma atitude e, mesmo assim, incapaz de pensar quando está cego de amor e de raiva, proferindo sentenças das quais se arrependerá amargamente. Processo realizado antes mesmo de tê-las dito, mas sem conseguir conter tais afirmações.

É preciso ler esta breve história de confissão de um criminoso, nada comum, sem dar muito espaço à razão; o momento é dado à insensatez. O pintor, que segue sua jornada de incompreensão mesmo dentro de uma cela, entende que foi possuído de ódio, desprezo e compaixão; sofre de um amor próprio doentio, mas não entende o que levou o marido traído de Maria Iribarne, após saber de tudo, cometer suicídio.

É um perspicaz investigador de si mesmo, porém, não consegue compreender os sentimentos dos outros.

Escrito em meados de junho do ano de 2009.

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