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sábado, 28 de maio de 2011

Confusão ideológica e interesses obscuros na sociedade da informação

Seria o “politicamente correto” uma boa orientação pelos tortuosos caminhos do ciberespaço? Discorre-se, essencialmente, sobre a possibilidade de deixar-se conduzir pelos hiperlinks. Cliques sucessivos, direcionados por aquilo que atrai o navegante sem ligação objetivamente lógica. Permitir que “novas páginas” se abram aos olhos curiosos, antes extenuados devido à obrigatoriedade de ações predeterminadas. Experiência íntima, subjetiva, sem, no entanto, ser menos política ou ideológica.

Não vejo capacidade revolucionária na simples instrumentalização das tecnologias digitais. Por isso, não sou partidário da ideologia do progresso. Muito antes o contrário. Não acredito nas potencialidades tecnológicas encurtando diferenças sociais na mesma proporção em que diminuem distâncias geográficas. Em sentido oposto, percebo que a digitalização das atividades culturais, ou seja, o avanço dos recursos de captação, produção e distribuição dos constructos midiáticos advindos do cotidiano, sobretudo em se tratando de audiovisuais, são meras representações das práticas sociais, agora virtualizadas. Atividades disponibilizadas em variadas plataformas, sem, contudo, se constituírem numa espécie de ato subversivo político-tecnológico. Como apregoam os entusiastas do pensamento pós-modernista.

Na verdade o que existe são outras possibilidades de consumo, abertura de mercado para a experimentação controlada e inclusão de novos atores no processo criativo, o qual também é predeterminado pelas indústrias de comunicação. Assim, cabe questionar: quais medidas estão sendo tomadas pelo governo de turno no sentido de ultrapassar o ideário positivista? Ou seja, as políticas adotadas no campo da comunicação visam ir além da mera inclusão sócio-digital? Tal questionamento se abre em função da propalada iniciativa sócio-inclusiva do Ministério das Comunicações, por intermédio do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

Embora o acesso integral à internet precise ser levado em conta, este fator, por si só, não resolve o problema da democratização. É preciso diagnosticar a autonomia dos internautas em suas investidas pela web. De nada resolve acessar aos mesmos materiais circulantes na mídia impressa, televisiva ou radiofônica, sem protagonizar a inserção de conteúdos próprios na rede. Acesso e interatividade, sem protagonismo, enquadram-se perfeitamente na proposta liberal de inclusão e cidadania.

Objetivo político

A meta do governo é massificar a oferta de acesso à Banda Larga. Conectar à web 50% dos domicílios brasileiros até 2014, permitindo, assim, que mais de 90 milhões de pessoas tenham internet em casa. No entanto, este ímpeto não resolve o problema da imposição cultural e ideológica promovida pelas instituições políticas e econômicas que estão no poder.

De acordo com o Ibobe, em 2009, 94% dos domicílios brasileiros possuíam pelo menos um aparelho de TV, tendo acesso, no mínimo, à programação veiculada pelos canais abertos. Desde o surgimento do primeiro televisor no Brasil, em 1950, até os dias de hoje, pouco se avançou na diversidade de conteúdos veiculados por estes canais. Tampouco abriram-se espaços para novos atores sociais participarem do processo de produção de conteúdo, com capacidade para ameaçar as empresas de comunicação dominantes.

Ora, se não é permitido ultrapassar os limites normativos impostos pela tecnologia da informação e comunicação, seja nos espaços midiáticos ditos mais à direita ou à esquerda do processo decisório, o ambiente político-virtual precisa ser constantemente renovado, sob o risco do acesso à web não representar o avanço necessário nas políticas de comunicação do governo. A mensalidade do PNBL, que pode atingir a cifra de R$ 35,00, terá uma velocidade de conexão entre 512 Kbps e 1Mbps, o que é muito pouco na perspectiva de subir conteúdo para rede (fazer upload).

O governo dá mostras que está fundamentando sua postura amparado no ideário liberal, apregoado pela sociedade da informação. Cabe aos que não concordam com esta medida ultrapassar o limite institucional da contestação política, retomando este debate com os movimentos sociais que participaram da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Caso contrário, caminha-se, novamente, para que as decisões de interesse público sejam tomadas em caráter privado, discutindo-se apenas com qual agente econômico internacional o governo irá se aliar para promover o fornecimento do serviço.

Recentemente o presidente da Telecom Itália, Franco Bernabè, manifestou muita vontade em expandir negócios no Brasil, o que ressalta a disputa com a Potugal Telecom no âmbito do PNBL. Esta última se coloca como gestora e gostaria de exclusividade na operação por intermédio da Oi. Já a TIM/Telecom Itália estaria negociando uma parceria com a Telebrás para avançar na proposta de operação desse serviço. O preço da Banda Larga, segundo os gestores da companhia italiana, poderia cair pela metade. Enquanto privilegia-se o consumo do cidadão neoclássico, inserido no mundo digital, o debate sobre o potencial protagonismo político das redes fica esquecido; como, infelizmente, tem acontecido com a maioria das proposições aprovadas na Confecom.

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