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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Devemos abandonar a voz dos outros

Existem diversas formas de dominação humana. Algumas mais sutis, outras nem tanto. O fato é que, uma linguagem escravizada, é traduzida em preceitos absurdos, onde classes inteiras são dominadas e julgadas inferiores pelos lingüistas de plantão.

Há uma infinidade de preconceitos lingüísticos. Eles estão impregnados no falar ou no escrever de cada brasileiro. O princípio da dominação está em não permitir a expressão popular. Inculcar, desde pequeno, em todas as crianças, como devem falar. Precisam seguir o exemplo dos mais velhos, dos letrados ou daqueles que aparecem na televisão.

A explicação para isso é histórica. Língua tem a ver com relação de poder. Exemplos clássicos, citados no livro Linguagem Escravizada, de Mário Maestri e Florence Carboni, destacam a importância da reflexão sobre esse tema. A palavra "moleque," que no português passou a ter sentido de "menino levado, travesso, menino de rua", é de origem quibunda e surgiu em Angola, onde a maioria étnica é negra e o signifcado é, tão somente, menino.

Há outros exemplos, como a palavra "maloca", aldeia da tribo tupi-guarani, que, hoje em dia, é entendida como o local onde residem as populações pobres. A palavra "china", de origem nativa, remete, erroneamente, a figura da mulher prostituída. Expressão que é muito empregada no Sul do país, com a intenção de denegrir a imagem de uma mulher.

Essa dominação lingüística e esse preconceito enraizado e cruel, reforçado pelas classes que estão no poder, colaboram para a reafirmação de esteriótipos. No espaço de dominação cultural, política e econômica, o uso da língua deixa de ser público e assume contornos de opressão social.

O tal "padrão culto" está a serviço de alguém. Isso é fato. Meios de comunicação, escolas, famílias, todas essas instituições aceitam o padrão dominante. Esquecem a origem das palavras, as variações lingüísticas e, principalmente, a diversidade cultural dos povos latino-americanos.

Somos todos escravos. Trabalhadores, estudantes, negros, brancos, mestiços, pobres e, até mesmo, ricos. Libertar-se das imposições culturais não resume-se a travar disputas em âmbito econômico, pois, na esfera da vida privada, constantemente é reproduzido o ódio de classe e o preconceito lingüístico. Superar esta etapa de dominação, expressa pelo modo de se comunicar, implica em reconhecer quando deixamos de falar por meio de nossas próprias construções mentais e, nessa direção, assumimos a postura de reprodutores da linguagem dominante.

"A sufocação dos timbres, das vozes e das línguas dos oprimidos é a condição essencial para a manutenção da hegemonia dos opressores" (Citação de Mário Maestri em Linguagem escravizada).

2 comentários:

Anônimo disse...

Eduardo:
Quem seriam os linguistas de plantão? Na minha opinião, o preconceito linguístico só poderá existir se alguém o identifica. Quem identifica o preconceito linguístico de que você fala e onde ele está? O que você considera língua culta? A que você usa no blog? Dê um exemplo, por favor. Promovendo a diversidade cultural, isto é, a (des)coesão social, você viverá em um país de dialetos, em que cada grupo vive no seu pequeno mundo, a exemplo do que acontece no território virtual da Internet. É assim que você imagina o país ideal? Se for possível, por favor, faça esses esclarecimentos. Depois, posso comentar o resto, se você quiser.
Abç
Fabiane

Eduardo Silveira de Menezes disse...

Olá Fabiane. Este post foi escrito em 2008. Nessa época, estava realizando a leitura do livro "Linguagem Escravizada" e procurei compartilhar algumas das provocações suscitadas pelos autores.

Todo aquele que se julga superior por, supostamente, dominar a "norma culta" de uma língua, está enquadrado no grupo dos "linguistas de plantão". Não se trata de uma referência direta aos linguistas, por formação.

O preconceito linguístico, ao qual me refiro neste texto, está por toda parte (escolas, meios de comunicação e, principalmente, nos círculos familiares). O professor Marcos Bagno é um bom exemplo de alguém que, constantemente, discute este tema e o identifica de forma muito particular.

Com este pequeno texto, procuro chamar a atenção para o fato dos preconceitos - não apenas linguísticos - serem condicionados por fatores históricos, econômicos, políticos e sociais.

Obviamente, a "língua culta", ao qual faço referência, é aquela enfiada goela abaixo, desde a mais tenra infância, como sendo a única forma de se "expressar corretamente".

Em ambientes familiares ou escolares, ao repreender crianças que não se expressam de acordo com as regras da língua portuguesa, está se desconsiderando a influência de outros dialetos na construção do vocabulário popular, sobretudo de populações mais pobres.

No blog não existe a preocupação em respeitar tais regras. Embora, dependendo do formato do texto e do local de publicação, se faça isso. A proposta do "Exílio" é, em primeiro lugar, fazer com que todos entendam os assuntos discutidos.

Quanto à diversidade cultural, acredito que temos interpretações bem distintas sobre o tema. Até podemos "promover a diversidade" – como você sugere –, mas não se trata disso. É muito mais uma questão de respeito.

A importância da diversidade cultural, em um território como a América Latina, é indiscutível. O que precisamos, isso sim, é aprender a respeitar e conviver com as diferenças dos mais diversos povos que influenciaram a construção da nossa cultura. Não vou me estender quanto ao assunto, mas, só a internet, daria uma discussão a parte.

Quando falo da importância de "abandonar a voz dos outros" estou buscando incentivar justamente o que está acontecendo aqui. Todos precisam se expressar livremente e da forma como sabem fazê-lo; não cabendo nem a mim, nem a você, ou à mídia - que é o foco de análise deste blog – dizer como este processo deve funcionar.

Espero ter respondido aos seus questionamentos.

Abraço,
Eduardo.

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