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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A liberdade do capital e a escravidão simbólica

Entre o final de semana passado e o início desta semana passou a circular na internet um vídeo divulgando a criação da "nova abertura" da série Os Simpsons, de autoria do grafiteiro Banksy. Na última segunda-feira, 11 de outubro, a emissora pública do Estado britânico, British Broadcasting Corporation (BBC), publicou uma matéria falando sobre o assunto e salientou: "a ideia teria sido inspirada em supostas notícias de que os produtores da série terceirizariam a maior parte do trabalho para uma empresa na Coreia do Sul".

Embora o caso seja revoltante, a julgar apenas por essas informações, tal situação não deixa de ser apenas curiosa, pois, não espanta muito o fato da FOX, emissora de televisão norte-americana ligada à News Corporation, de Rupert Murdoch, estar explorando mão de obra barata para vender suas produções midiáticas e fortalecer um dos maiores conglomerados de mídia da Europa. Talvez só obrigando-me a fazer referência a outro célebre ditador midiático, dono do Mediaset, o qual também atua nesse continente, o magnata e neo-fascista italiano, Silvio Berlusconi.


Vídeo de Banksy com a "nova abertura" de
Os Simpsons

A série estadunidense, Os Simpsons, foi criada pelo cartunista Matt Groening e desenvolvida especialmente para a FOX, tendo como principal intúito satirizar o american way of life e entreter um público abrangente, já que recebe dublagens para o espanhol e português e circula, através dos seviços de TV por assinatura, para os mais variados lugares do globo terrestre. A crítica dos Simpsons à classe média norte-americana é válida, mas, ainda mais importante, é questionar como são elaboradas e executadas estas produções hollywoodianas e quais os intresses econômicos e políticos que estão por trás dos bens simbólicos oriundos da indústria cultural.

A forma como Murdoch e Berlusconi conseguem coagir qualquer suspiro de orientação regulatória em seus países é um alerta para a importância de se pensar em modelos de regulação pública, os quais, necessariamente, não podem estar vinculados ao controle excessivo do Estado, mas devem ser suficientemente capazes de interferir na livre atuação desses agentes, evitando que ocorram os mais absurdos e incontestáveis abusos de poder por meio do uso dos media.

Murdoch e Berlusconi

Um fato que ilustra bem essa preocupação é a ingerência que Murdoch estabeleceu ao longo dos anos, na Inglaterra, sobre os partidos conservador e trabalhista. Sabendo da força e da influência do jornal The Sun, nenhum grupo partidário ousou medir forças com o todo poderoso proprietário desta publicação. Foi, inclusive, nesta mesma direção, que o Governo Thatcher resolveu não se meter na aquisição da British Satellite Broadcasting pela Sky, empresa que já pertencia ao grupo Murdoch, originando, a partir desta fusão, a British Sky Broadcasting (BSkyB).

É nesse mesmo espaço de atuação, livre das amarras governamentais, que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, valendo-se das brechas existentes no sistema regulatório italiano, impede a criação de emissoras de televisão comerciais de cunho nacional e, ao mesmo tempo, mantém o controle de três redes privadas de televisão. Além disso, sabe-se que o déspota possui influência também sobre o canal público de televisão RAI, pois tratou de nomear pessoas próximas a ele para atuar em cargos diretivos dentro da emissora.

Os heróis e semi-deuses

É sobre essa lógica perversa que se constroem os personagens animados. Depois, estas figuras passam a ocupar as prateleiras das lojas e supermercados tornando-se heróis, ou, em alguns casos, semi-deuses. A indústria da mídia não deixa os "consumidores" saberem de onde vem o produto, qual o contexto em que foram produzidos e com que intenções foram esteriotipados. Essa reflexão é pessoal e deve ser feita por cada um da maneira que melhor lhe convir.

No mundo das fantasias e do humor contra-revolucionário, Bart Simpson, é um herói. Jovens de todo o mundo admiram sua intransigência e veneram sua ousadia. É o mais próximo de contestar o poder que alguns se permitem chegar. É isso: sentar no sofá e apertar os botões enquanto riem das peripécias do levado personagem amarelo e sorridente. Infelizmente os verdadeiros heróis estão esquecidos, quando não viraram também mercadorias ou piadas (redundância necessária). Hoje é comum ver uma manada de estudantes desfilando com camisas estampando a imagem de Che Guevara, só para ficar em um exemplo atual.

Nessa lógica de consumos simbólicos desprovidos de intencionalidade ideológica e política, a imagem do comandante cubano vestindo a camisa de Bart, soa como algo pertinente. Afinal, os rebeldes de hoje, compram camisas com imagens de guerrilheros numa multinacional qualquer e sentam-se no sofá para ver Os Simpsons, enquanto bebem coca-cola e arrotam ignorância sobre a sua própria história.

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