A máxima proclamada por Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto do Partido Comunista, em 1948, na qual convocavam os trabalhadores de todo o mundo para que aproximassem suas lutas e enfrentassem os donos do capital, acabou sendo ironicamente apropriada pelos barões da mídia. Ao invés do proletariado de todo mundo unir-se, quem se fortaleceu e, de certa forma, unificou-se incentivando o avanço das novas tecnologias, foram as grandes empresas ligadas ao ramo das comunicações.
Neste cenário, cada vez mais absorto em fetichismos tecnológicos e disputas de audiência, volta-se o olhar para a atuação sindical e o papel estratégico que estas organizações têm ao desafiar o poder estabelecido, agindo, principalmente, no âmbito comunicacional. Tarefa nada fácil, ainda mais se levando em conta que a existência do sindicalismo no Brasil é fortemente marcada pelo controle estatal.
Em 1930, o então presidente Getúlio Vargas toma uma série de medidas para atrelar as organizações sindicais ao Estado. Paralelo a criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio passa a vigorar o Decreto-Lei n° 19.770, com o objetivo de regular a sindicalização das classes patronais e operárias, controlando a criação e a atuação destas entidades. Ainda neste Governo cria-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a qual, ao aglutinar toda legislação trabalhista, passa a regulamentar as relações que se estabelecem entre patrões e empregados, restringindo a livre associação sindical. Este entulho autoritário do Estado Novo só é rechaçado com a Constituição Federal de 1988, que determina em seu artigo 37, inciso VI ser “garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical”.
Antes disso, durante a ditadura de 1964, as organizações sindicais protagonizaram um importante movimento de contestação ao Governo Militar. As entidades classistas foram responsáveis por unir as principais lideranças políticas do país que eram contrárias ao regime e passaram a exigir a retomada da democracia e a participação popular nas decisões governamentais. Não obstante, esta postura combativa foi perdendo força ao longo dos anos, atingido seu ápice com a chegada de Luís Inácio Lula da Silva ao poder. A perplexidade e insatisfação de parte da sociedade brasileira frente à política neoliberal adotada pelo atual Governo não foi suficiente para motivar a principal central sindical do país a pressionar o ex-líder sindical por uma mudança de atitude. Situação que acaba se refletindo na falta de identificação de grande parte da classe trabalhadora com o movimento sindical nos dias de hoje.
Diferente das diversas publicações classistas que circularam no Brasil e foram responsáveis pela propaganda operária até o golpe militar, as atuais experiências de mídia, oriundas das organizações sindicais, mesmo estando inseridas dentro do espectro da convergência midiática, continuam deixando a desejar tanto no formato quanto no conteúdo de suas produções. A imprensa sindical que chegou a ter oito jornais diários circulando no Brasil, na década de 1940, conquistou o respeito da classe trabalhadora por que buscava aproximar-se da sua realidade. No entanto, ao seguir cegamente a linha ditada pelo Estado Soviético, a imprensa daquela época sucumbiu, pois, com o passar do tempo, nada mais dizia sobre a realidade local.
Muito mais atentos aos avanços das tecnologias de comunicação, os principais grupos econômicos multinacionais, atuando por meio dos grandes conglomerados de mídia, se beneficiaram da falta de interferência do Estado na regulação da atividade econômica e da pouca pressão exercida pelas organizações sindicais visando o controle dos grupos privados. Assim, as empresas voltadas ao setor de comunicação acabaram diversificando a oferta de produtos sem maiores restrições. A convergência permite, por exemplo, que em um mesmo pacote possam ser incluídos serviços de telefonia fixa, móvel, internet e TV a cabo. Ao ter acesso às novas tecnologias e utilizar os serviços disponíveis o trabalhador sente-se contemplado e inserido neste novo bios midiático, embora não diversifique o consumo de conteúdos.
É neste espaço que devem atuar as organizações sindicais, pois, com a convergência midiática, a classe trabalhadora passa a configurar-se também como produtora de conteúdo, deixando de ser mera consumidora de informação. Os grandes conglomerados de comunicação cada vez mais oferecem recursos midiáticos criando a ilusão de que os trabalhadores estão inseridos no universo produtivo, porque permitem que eles disponibilizem conteúdos na internet, mesmo que sejam todos muito semelhantes e, em geral, acríticos. Às organizações sindicais cabe o papel de aproximar-se dos trabalhadores, fornecendo em seus canais de comunicação espaços de verdadeira atuação política, os quais devem permitir a crítica ao Governo e, assim, renovar também o próprio movimento sindical.
Texto originalmente publicado na Revista do Instituto Humanitas da Unisinos 338, ano X, de 9 de agosto de 2010.
Versão on line clique aqui.
Neste cenário, cada vez mais absorto em fetichismos tecnológicos e disputas de audiência, volta-se o olhar para a atuação sindical e o papel estratégico que estas organizações têm ao desafiar o poder estabelecido, agindo, principalmente, no âmbito comunicacional. Tarefa nada fácil, ainda mais se levando em conta que a existência do sindicalismo no Brasil é fortemente marcada pelo controle estatal.
Em 1930, o então presidente Getúlio Vargas toma uma série de medidas para atrelar as organizações sindicais ao Estado. Paralelo a criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio passa a vigorar o Decreto-Lei n° 19.770, com o objetivo de regular a sindicalização das classes patronais e operárias, controlando a criação e a atuação destas entidades. Ainda neste Governo cria-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a qual, ao aglutinar toda legislação trabalhista, passa a regulamentar as relações que se estabelecem entre patrões e empregados, restringindo a livre associação sindical. Este entulho autoritário do Estado Novo só é rechaçado com a Constituição Federal de 1988, que determina em seu artigo 37, inciso VI ser “garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical”.
Antes disso, durante a ditadura de 1964, as organizações sindicais protagonizaram um importante movimento de contestação ao Governo Militar. As entidades classistas foram responsáveis por unir as principais lideranças políticas do país que eram contrárias ao regime e passaram a exigir a retomada da democracia e a participação popular nas decisões governamentais. Não obstante, esta postura combativa foi perdendo força ao longo dos anos, atingido seu ápice com a chegada de Luís Inácio Lula da Silva ao poder. A perplexidade e insatisfação de parte da sociedade brasileira frente à política neoliberal adotada pelo atual Governo não foi suficiente para motivar a principal central sindical do país a pressionar o ex-líder sindical por uma mudança de atitude. Situação que acaba se refletindo na falta de identificação de grande parte da classe trabalhadora com o movimento sindical nos dias de hoje.
Diferente das diversas publicações classistas que circularam no Brasil e foram responsáveis pela propaganda operária até o golpe militar, as atuais experiências de mídia, oriundas das organizações sindicais, mesmo estando inseridas dentro do espectro da convergência midiática, continuam deixando a desejar tanto no formato quanto no conteúdo de suas produções. A imprensa sindical que chegou a ter oito jornais diários circulando no Brasil, na década de 1940, conquistou o respeito da classe trabalhadora por que buscava aproximar-se da sua realidade. No entanto, ao seguir cegamente a linha ditada pelo Estado Soviético, a imprensa daquela época sucumbiu, pois, com o passar do tempo, nada mais dizia sobre a realidade local.
Muito mais atentos aos avanços das tecnologias de comunicação, os principais grupos econômicos multinacionais, atuando por meio dos grandes conglomerados de mídia, se beneficiaram da falta de interferência do Estado na regulação da atividade econômica e da pouca pressão exercida pelas organizações sindicais visando o controle dos grupos privados. Assim, as empresas voltadas ao setor de comunicação acabaram diversificando a oferta de produtos sem maiores restrições. A convergência permite, por exemplo, que em um mesmo pacote possam ser incluídos serviços de telefonia fixa, móvel, internet e TV a cabo. Ao ter acesso às novas tecnologias e utilizar os serviços disponíveis o trabalhador sente-se contemplado e inserido neste novo bios midiático, embora não diversifique o consumo de conteúdos.
É neste espaço que devem atuar as organizações sindicais, pois, com a convergência midiática, a classe trabalhadora passa a configurar-se também como produtora de conteúdo, deixando de ser mera consumidora de informação. Os grandes conglomerados de comunicação cada vez mais oferecem recursos midiáticos criando a ilusão de que os trabalhadores estão inseridos no universo produtivo, porque permitem que eles disponibilizem conteúdos na internet, mesmo que sejam todos muito semelhantes e, em geral, acríticos. Às organizações sindicais cabe o papel de aproximar-se dos trabalhadores, fornecendo em seus canais de comunicação espaços de verdadeira atuação política, os quais devem permitir a crítica ao Governo e, assim, renovar também o próprio movimento sindical.
Texto originalmente publicado na Revista do Instituto Humanitas da Unisinos 338, ano X, de 9 de agosto de 2010.
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