Querer escrever e não conseguir é como ter negado o último suspiro de vida. Quem escreve por profissão sabe que o faz porque precisa sobreviver. É o seu “ganha pão”. O poeta, ao contrário, escreve por temer a morte. Não quer passar sem ser visto; nem deixar o espaço de tempo, onde habita, sem um “todavia”. Despreza o “portanto”, tão caro aos comunicadores. Sendo direcionado pelas dúvidas e com poucas conclusões, formula os melhores textos. Não são como este. Nada possuem de explicativo. Procuram confundir. Fazer pensar.
Sentir-se renovado, após a leitura de algumas linhas, é como receber uma nova chance. Se estiver tudo nebuloso, até o contato com as letras, não importa. Daquele momento em diante algo se modifica. Desperto, o sentimento instiga. Aliás, mesmo quando o assunto não causa interesse, manifesta-se, sem dúvida, uma reação. Nem que seja o desprezo. Janela que se fecha, no computador. Folha que se move em direção à próxima página, nos impressos.
Letras não reclamam. Não choram. Quando reunidas por sentimentos, precisam se esforçar para atrair, prender a atenção e comunicar. Frases, mesmo ao expressarem dramas, não impactam como a imagem. Causar comoção ao escrever é uma arte para poucos. Por isso, em sua grande maioria, os jornalistas – artistas do efêmero – muitas vezes apelam para a escrita vulgar. Não são poetas. São, em sua essência, levados a serem prolixos. Embora também não sejam visionários têm a incumbência de prognosticar o futuro.
Mas, se as notícias fossem feito poesia, talvez houvesse mais verdades e menos eufemismos. Se escrever textos fosse como fazer sexo, a curiosidade seria atiçada desde cedo. Quem sabe falte aos jornalistas (e, nestes, me incluo) flertar com as pautas que realmente interessam; obviamente considerando os limites e complicações desta escolha. Quando as letras conseguem se insinuar certamente atingem a libido do leitor com mais força do que as imagens. Afinal, cada um pode imaginar – ou interpretar – ao seu modo. “No entanto”, todo manual de redação, que se preze, irá bradar: “mas, em meio a tudo isso, onde fica a objetividade?”
Concordo. Não há como negar. Poesia e notícia são formas diferentes de transmitir informações, ou melhor, sentimentos. Agora, é indispensável deixar claro, desde o início, que, cada notícia, é apenas uma versão do fato tornada pública. Uma, das tantas que existem. O problema é que, geralmente, o jornalista deixa-se levar pela “posição” mais cômoda, pondo em risco o seu “casamento” com a escrita. Para ficar mais interessante, deveria variar, sabendo que esta decisão não pode ser tomada sozinha. Seguir a voz do leitor e deixar-se guiar pela verdade daquele momento, conjuga-se no respeito necessário à formulação da matéria.
O leitor precisa estar de acordo com a escolha do repórter. Não pode ser violentado pela informação. Algumas posições podem ser rechaçadas desde o começo. Isso é compreensível. O melhor é ser honesto. Deve-se dar o direito à escolha para os leitores. Hoje, infelizmente, esta decisão está restrita ao conservadorismo de poucas famílias (Marinho, Civita, Frias, Mesquita e Sirotsky – para citar as principais). É o famoso “papai e mamãe” da comunicação. Caso não haja cumplicidade entre todos os envolvidos com a escrita, a tendência é acabar tudo em uma frustrante brochada.
2 comentários:
Texto sensacional, Eduardo. O final então... Concordo plenamente e até tentei fazer algumas vezes na época da graduação e nos meus blogs, especialmente quando o assunto é futebol: arranjar formas diferentes de se escrever, fugir da pirâmide invertida e congêneres. Se ninguém tentar o "diferente" quando é que vai surgir algo novo?
Muito bom perceber que o Exílio continuará com textos. Espero que esteja tudo bem após o retorno a Pelotas.
Valeu Anderson. Vou tentar seguir escrevendo no Exílio. Por aqui tudo bem. Por enquanto estou em ritmo de férias. Refletindo sobre os próximos passos. Como vão as coisas? Vamos marcar uma vinda tua e do Dijair para Pelotas. Abraço.
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